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Parir em Paz

Parir em Paz

Polêmica da plástica pós-parto divide opiniões nos EUA

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Pacotes 'mommy makeover' vendem às mães a imagem de um corpo 'restaurado'.
Marketing em torno da busca pela perfeição iduziria mulheres a fazerem mais cirurgias.
O doutor David A. Stoker, cirurgião plástico de Marina Del Rey, na Califórnia, possui a cura cirúrgica para os danos da maternidade. Ele, assim como tantos outros cirurgiões plásticos dos EUA, chama o trabalho de "mommy makeover", algo como a plástica ou recuperação do corpo da mamãe.

Destinadas às mães, em geral as cirurgias são oferecidas em pacotes de três: uma levantada nos seios com ou sem implantes de silicone, redução da barriga e lipoaspiração. Os procedimentos têm o objetivo de diminuir a flacidez da pele e reduzir as estrias e a gordura adquiridas na gravidez.

"O grave trauma físico proveniente de gravidez, parto e amamentação pode resultar em efeitos negativos profundos que fazem com que a mulher perca o contorno do corpo", disse ele. Sua clínica, a Marina Plastic Surgery Associates, mantém o site amommymakeover.com, que descreve as cirurgias necessárias para colocar o corpo pós-gestação em ordem.

Fênomeno da natureza

"Há vinte anos, as mulheres não achavam que havia como solucionar esses problemas e se cobriam com roupas discretas", contou Stoker. "Hoje, porém, as mulheres não precisam ficar envergonhadas ou chateadas com a aparência".

Em 1970, o famoso guia de saúde da mulher "Our bodies, ourselves", descrevia as mudanças cosméticas que podem ocorrer durante e depois da gravidez simplesmente como um fenômeno da natureza. Mas hoje, as rígidas regras de beleza estão classificando as transformações da maternidade na categoria de ônus.

Esses padrões irredutíveis são fruto da tecnologia e da cultura pop, uma combinação que trata as mudanças biológicas como se fossem tão substituíveis quanto a cor do cabelo. As revistas de fofoca não perdoam as mães celebridades que não perdem imediatamente o "peso do bebê". Até a Cookie, uma revista de luxo para pais, recentemente publicou um artigo que descrevia os seios pós-gestação como "a pior das afrontas" e promovia a cirurgia de implante de silicone. Uma foto de bexigas caídas cheias de água ilustrava a matéria
Muitas mulheres lutam contra o impacto do envelhecimento e da gravidez. Mas o marketing do "mommy makeover" tenta transformar em patologia o corpo pós-parto, caracterizando a gravidez e o parto como enfermidades com efeitos desfigurantes que podem ser consertados com a ajuda de bisturis e cânulas.

"A mensagem é que, depois de ter filhos, o corpo da mulher muda para pior", declarou Diana Zuckerman, presidente do Centro Nacional de Pesquisa da Família e da Mulher, um grupo sem fins lucrativos de Washington. Se o marketing conseguir fazer com que o corpo pós-gravidez "se transforme em algo inaceitável socialmente, imagine o tamanho do seu público e quantas cirurgias você conseguiria vender para esse público", disse ela.


Cada mulher reage de uma forma à gravidez. Idade e genética influenciam o modo como o corpo se recupera. Embora muitos cirurgiões plásticos argumentem que a gravidez "deforma" os seios e redistribui a gordura dificultando a sua eliminação apenas com a prática de exercícios físicos, alguns obstetras discordam.

"Algumas mulheres ficam com estrias devido à gravidez ou ao ganho de peso", explicou o doutor Erin E. Tracy, professor assistente em obstetrícia, ginecologia e biologia reprodutiva da Harvard Medical School. "Mas não há anormalidade intrínseca aos seios ou ao abdômen".

A cirurgia das mamães é vendida tanto como um reparo rápido para o peso adquirido e difícil de perder depois da gravidez, quanto como uma maneira de frear o próprio envelhecimento. Dezenas de médicos dedicam seções de seus sites à plástica das mamães, inclusive o doutor Lloyd M. Krieger, cirurgião plástico de Beverly Hills, na Califórnia, que oferece a Rodeo Drive Mommy Makeover para mulheres que querem ter "a barriga e os seios como eram antes da gravidez".

A cirurgia da mamãe chamou a atenção do público no início deste ano depois de a Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos reportar um aumento no número de cirurgias plásticas entre mulheres em idade reprodutiva (nem todas necessariamente mães). No ano passado, os médicos em todos os EUA realizaram mais de 325 mil "procedimentos mommy makeover" em mulheres de idade entre 20 e 39 anos, um aumento de 11% em relação a 2005, segundo o grupo.

(...)
Riscos
Outros cirurgiões, porém, preocupam-se com a possibilidade de que pacotes de diversos procedimentos com um nome charmoso acabem induzindo as mulheres a fazer outras operações, aumentando potencialmente o risco de contrair infecções e até morrer.

Diversos estudos publicados em periódicos de medicina reportaram os índices de mortalidade causada por lipoaspiração de uma morte em cada 5.000 procedimentos a uma morte em cada 50 mil procedimentos.

Em Dallas, pai e filho cirurgiões plásticos, os doutores Harlan Pollock e Todd Pollock, usam o site, www.drpollock.com, para exibir a "mommy makeover" como estratégia de vendas.

"O marketing inteligente pode incentivar a correção de uma deformidade que até então não preocupava muito", escrevem os médicos. "Isto é, uma mulher que deseja fazer uma abdominoplastia, embora não esteja particularmente preocupada com a aparência dos seios, pode ser influenciada a fazer a plástica nos seios só porque está incluída no 'pacote"'.

Alguns defensores da saúde não estão se convencendo de que as mudanças cosméticas causadas pela gravidez mereçam supervisão médica. "Algumas mulheres voltam a ter uma barriga lisinha e outras não, algumas retomam o peso que tinham antes de ter filho e outras não", declarou Judy Norsigian, diretora executiva do Our Bodies Ourselves, um grupo de saúde de Boston, e autora do livro de mesmo nome. "A questão é, isso requer tratamento com plástica cirúrgica?".

retirado globo.com

Parteira moderna humaniza nascimento

O estetoscópio de Pinard — instrumento de madeira criado há mais de 130 anos para ouvir o coração do bebê no ventre da mãe — resiste ao tempo na casa da enfermeira Maria Clara Amaral. Mesmo já sem utilizá-lo, ele se tornou um símbolo do conhecimento antigo, aprimorado com tempo e estudo, com o objetivo de manter a força feminina. Com mais de 30 anos de profissão, o trabalho dessa enfermeira é marcado pela luta por partos mais humanizados e o retorno à época em que se nascia em casa, com a presença de uma parteira e de algumas outras mulheres que já haviam passado pela experiência de parir.

Maria Clara é obstetriz, uma espécie de “parteira da atualidade”. Com curso superior em enfermagem e habilitação em obstetrícia, profissionais como ela se dedicam à tarefa de afastar dos hospitais as mulheres em trabalho de parto, oferecer conforto, amenizar a dor e possibilitar que a chegada de uma nova vida ao mundo seja uma experiência da qual a mulher é a protagonista. “Uma cesariana não tem a mesma força que arrepia a gente. É um ato em que a mulher não sente, se torna passiva diante da ação de um médico. Gravidez não é doença para ser assunto de hospital”, defende. Mãe de dois filhos, Maria Clara ajuda a promover uma experiência pela qual não pôde passar: suas gestações foram de risco, motivo que a obrigou à cesárea.

Depois de uma carreira em que realizou uma série de partos domiciliares, Maria Clara se dedica à formação de novos profissionais. Ela é professora no curso de enfermagem na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Na defesa do parto em casa, a obstetriz também ajuda a diminuir um dos índices mais alarmantes da saúde no Brasil: a quantidade de cesáreas realizadas todos os anos representa 90% do número total de partos feitos no País, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) indica como ideal entre 15% e 20%. Sem o interesse de substituir o médico e com a consciência de que, em casos com complicações, a única saída é apelar para o bisturi, a obstetriz acompanha os exames feitos pelos médicos e a gravidez desde o início. “A verdadeira preparação para o parto deve mostrar à mulher que ela é capaz e afastar dela o medo da dor e do sofrimento, causa de tanta gente não viver a experiência de dar à luz naturalmente.”

Experiência

A médica neonatologista Ana Paula Caldas Machado tem três filhos. Na primeira gestação, há sete anos, ela tentou ter um parto natural num hospital, mas teve complicações e foi preciso recorrer à cesárea. “Me senti frustrada e resolvi pesquisar outras formas de entender o parto. De início, achei que essa história de ter filhos em casa era maluquice, mas resolvi tentar. Geralmente, os médicos têm pressa e induzem à cesárea, alegando riscos e desculpas como pouco líquido, bacia pequena, falta de dilatação. Hoje, sei que não existe mulher que não dilata, há falta de paciência”, enfatiza. Ao engravidar pela segunda vez, Ana Paula contratou uma obstetriz de São Paulo, Vilma Nischi, para ser a responsável por ajudá-la a trazer ao mundo a garotinha Lis, hoje com 3 anos.

“Quando submetida à cesárea, a mulher fica completamente dissociada do que está acontecendo. Você não sente nada. No parto natural, principalmente se for em casa, a mãe é a dona da situação. Quando ela consegue transpor o limite da dor, se sente poderosa e realizada como mulher.” Se estivesse num hospital, Ana Paula tem a certeza de que os médicos teriam optado pela cesariana. Foram quase 30 horas de trabalho de parto, sempre com Vilma ao seu lado. Para amenizar a dor, entraram as estratégias das obstetrizes e das doulas, acompanhantes das parturientes (palavra que substitui a tradicional “paciente”, usada por boa parte dos médicos).

“A mulher muda de posição, toma banhos, recebe massagens. Nossa função é respeitar a intimidade e monitorar se ela ou o bebê correm algum risco e, se for o caso, correr para o hospital”, explica Vilma, que já realizou 128 partos domiciliares desde 2002, a maioria em mulheres com curso superior e de classe média-alta. Paulistana, ela atua na Capital, em Campinas e em Sorocaba. O custo desse tipo de parto fica em torno de R$ 3 mil, valor próximo ao cobrado por médicos para uma cesárea, sem as despesas de hospital.

Há dois meses, quando Raul, seu terceiro filho, nasceu, Ana Paula repetiu a experiência e estava com o bebê nos braços depois de três horas. “O pós-operatório da cesárea também é muito pior. A mulher precisa cuidar da cirurgia e do recém-nascido.”

Dor

Na Holanda, campeã dos partos domiciliares, 35% dos bebês nascem em casa e a taxa de cesárea é menor que 10%. Por lá, também proliferam os cursos de preparação para o parto natural, que têm o objetivo de mostrar à mulher que este é um processo mais doloroso, mas compensador. “Nos hospitais, a mãe não está num lugar propício para um momento tão íntimo. Há uma profusão de luzes, corre-corre, ela fica ao lado de outras mulheres que não conhece. Médicos e enfermeiros a estimulam a fazer força, sem respeitar o tempo e o desejo”, ressalta Maria Clara, que também defende o uso mais racional da anestesia peridural. “Mais do que tirar a dor, é uma forma de roubar da mulher a experiência completa de virar mãe. Ela faz força simplesmente porque lhe pedem, sem sentir nada.”

Como mãe e médica, Ana Paula também ressalta que, para o bebê, há muito mais vantagens num parto natural. “A passagem pela vagina faz com que o recém-nascido se comprima e isso retira toda a secreção que existir no pulmão. O risco de infecções também é mínimo. Na cesárea, além de não escolher em que hora vai nascer, a criança tem 30 segundos para se adaptar ao novo jeito de respirar fora do útero.”

Antes de dar à luz em casa, Maria Clara explica que é necessário uma avaliação das condições da mulher e do bebê. “Se a parturiente já tiver feito duas cesáreas, o parto natural não é indicado, pois o útero está mais frágil e pode romper com a força que ela fará. O tamanho do bebê e da bacia da mãe também precisam ser verificados, assim como a possibilidade de um encaminhamento imediato para um hospital no caso de complicações.”

Doula ajuda as mulheres a superarem dor e dúvida

Uma mulher para servir. Esse é o significado original, no grego, para a palavra doula, profissão da uruguaia Lucía Caldeyro, há 35 anos no Brasil. Ela é como as antigas acompanhantes das mulheres que tinham os filhos em casa no tempo das parteiras sem formação universitária. No vocabulário dessas novas profissionais, servir é o mesmo que orientar o casal sobre o que esperar do parto, ajudar a mulher a encontrar a melhor posição para dar à luz e sugerir estratégias naturais, como banhos, massagens e relaxamentos que aliviem a dor. A função surgiu nos Estados Unidos, depois de uma pesquisa na década de 70 que provou que partos com acompanhantes eram mais rápidos e fáceis.

Com 26 anos de profissão, Lucía começou como voluntária no Centro de Apoio à Saúde Integral da Mulher (Caism), da Unicamp, num grupo de parto alternativo. “O trabalho da doula começa junto com a gravidez. Mesmo depois que o bebê nasce, ela visita a família, transmite informações sobre amamentação e tira dúvidas da mãe, principalmente daquelas que têm o primeiro filho.”

Entre os instrumentos que ela leva aos partos que acompanha, estão bolas utilizadas por fisioterapeutas e bambolês. “O parto é algo natural como a digestão. Por isso, ninguém precisa ensiná-lo à mulher. Mas há fatores que atrapalham. Nossa função é auxiliá-la a ter um parto tranqüilo e seguro.” Na América do Norte, já existem cerca de 12 mil doulas. No Brasil, não há estimativas do número dessas profissionais.

Lucía teve quatro filhos, todos naturalmente. No último, ficou apenas 15 minutos com contrações. “Resolvi ser doula para ajudar mulheres a ter experiências tão boas como as minhas, desde a primeira gestação.” O alívio da dor, conseguido por meio de mudança de posição, tem uma justificativa na anatomia. Segundo a obstetriz Maria Clara Amaral, na posição ginecológica, em que a maioria dos partos é feita, a mulher sente maior desconforto porque uma veia chamada cava, localizada entre o útero e a coluna, é comprimida pelo peso do bebê. “Além disso, a mulher se sente muito vulnerável nesse posição. Ela deve escolher como quer ter o filho.”



http://www.cosmo.com.br/cidades/campinas/integra.asp?id=215924

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