Todos os mamíferos se escondem, se isolam para trazer ao mundo a sua prole. Necessitam intimidade. Os seres humanos também. É imprescindível fazer referência constante a essa necessidade de intimidade. (…)
Para trazer ao mundo as suas crias, as fêmeas dos mamíferos devem segregar certo número de hormonas bem conhecidas. As mesmas hormonas se desencadeiam no momento do parto de um ser humano. São libertadas pelas estruturas primitivas do cérebro que temos em comum com todos os mamíferos, ponto de partida de qualquer intento de compreensão do processo de parto na nossa espécie.
(…) Todas as culturas que conhecemos encontraram meios para perturbar o período que rodeia o nascimento e para negar as necessidades fundamentais que compartilhamos com os demais mamíferos.
(…) Tem-se dado uma grande credibilidade às atitudes que se apoiam numa incompreensão fundamental dos processos fisiológicos. Os franceses são responsáveis pelos extravios mais significativos. Assim, Lamaze, obstetra francês, pai da psicoprofilaxia ocidental, dizia e escrevia que uma mulher deve aprender a dar à luz tal como aprende a andar, a ler ou a nadar. Estas indicações despistaram o mundo inteiro, e com o tempo, resultaram numa crise. (…) Foi assim que gerações de mulheres gestantes foram preparadas para o parto.
A interpretação do processo de parto como um processo involuntário que põe em marcha as estruturas ancestrais, primitivas, mamalianas do cérebro, pressupõe desfazer a ideia aceite de que uma mulher pode aprender a parir.
Esta interpretação permite, inclusive, compreender que não se pode ajudar activamente uma mulher a parir. Não se pode ajudar num processo involuntário. Somente se pode evitar perturbá-lo demasiado.
Palestra Gravidez e Parto Natural – Toque e contacto na gestação e na vida do bebê
Mulheres e crianças no mundo todo estão sofrendo por uma sociedade que perdeu a arte de gerar e nascer naturalmente perdeu-se a intimidade com o próprio corpo. A gravidez tornou-se uma doença e a maioria das mulheres hoje estão condicionadas a acreditar que seu corpo é fraco e poderá falhar. Crianças estão sofrendo de problemas respiratórios, sistemas imunológicos fracos e traumas físicos e emocionais diversos decorrentes de gestação sem vinculo, partos cirúrgicos e falta de estímulos positivos. A maioria dos problemas e complicações na gravidez e parto podem ser evitados se as mulheres tiverem acesso à informações precisas e suporte adequado da comunidade. Podemos parar esta crise e reaver à sabedoria nata de nosso corpo através do auto conhecimento, do toque e do contacto. Venha compartilhar um dia especial de unidade e fortalecer o Feminino gerador, o poder que cada mulher carrega consigo. Vamos relembrar a arte de gerar dar a luz naturalmente e alimentando-nos pela pele. Saúde e bem estar durante a gravidez, o parto e pós-parto; A fisiologia da gravidez e o toque ; Como o estado mental e emocional da mãe pode afectar a gestação, o parto e amamentação; Actividades culturais em relação a gravidez e parto; Yoga e posições de parto; *Publico alvo – Profissionais e Gestantes – Sábado dia 26 das 9 ás 11 no Barrigas&Bebes 919267844
Fui mãe pela primeira vez á 4 anos. Foi á 4 anos que deixei de ser menina, passei a ser mulher...
Foi graças ao parto da minha filha que descobri a minha missão... e a ti, minha linda, só te tenho a agradecer por isso.
Ás vezes é preciso passar por uma má experiência para nos abrir os olhos e ver que há outra realidade...
Mas quando a minha filha estiver gravida, posso dizer-lhe que pode ter o parto que quer, porque um grupo de mulheres teve a ousadia de fazer pensar muitas grávidas.
Sinto muito orgulho por ser Doula, e conhecer mulheres extraordinárias, que, como eu, lutam pela humanização do parto em Portugal!
Se não fosses tu Mariana, a mãe não estava a fazer aquilo que tanto ama.
Uma vivência de lazer terapêutico, onde os participantes, guiados por instrutores, têm a oportunidade de vivenciar a Massagem Thai aplicando e recebendo uma sessão. O Workshop de Massagem Thai tem diversas aplicações como terapia social, projectos direcionados à qualidade de vida, instituições, organizações não governamentais e empresas e realizada em grupo. A duração média é de 2 horas e é composto de aquecimento, troca e meditação - introduzindo as pessoas a este estilo tradicional de massagem meditativa. Benefícios: O workshop de Massagem Thai propicia: · O aumento da concentração e relaxamento, criando um espaço de renovação energético; Aflora a sensibilidade consigo e com os outros; Melhora a mobilidade e o equilíbrio corporal Maior flexibilidade das articulações e fluxo sanguíneo; Fortalecimento de sistema respiratório; Estado meditativo, focado no silêncio e no presente; O toque terapêutico, restaurando a harmonia do sistema nervoso e dissolvendo tensões. Com Marjorie Sá www.massagemthai.com.br
Proximo Sábado das 15h ás 18h. Comparticipação de 5€ por pessoa.
Basta enviar um mail ou contactar pelos telefones abaixo descritos a confirmar a sua presença!
Robbie E. Davis-Floyd, Birth as an American Rite of Passage. Berkeley and Los Angeles, University of California Press, 1992. (Resenha assinada por Sonia N. Hotimsky, no Notas sobre Nascimento e Parto, Ano III, nº6, novembro de 1998, publicação do Grupo de Estudos sobre Nascimento e Parto / Instituto de Saúde-SES-SP).
Sobre o capítulo 3, "Birth Messages"; o caso da episiotomia:
"Faz uma análise simbólica dos procedimentos de rotina do parto hospitalar, por ela denominado de modelo tecnocrático do parto. Seu objetivo é elucidar os motivos pelos quais as instituições, a despeito das contra-indicações assinaladas pelas evidências científicas, continuam promovendo o uso rotineiro de vários desses procedimentos, entre os quais a episiotomia. Eles desempenham importantes funções rituais e simbólicas, atendendo, com sucesso, a diversas demandas importantes dos profissionais de saúde responsáveis pela assistência ao parto, das mulheres em trabalho de parto e da sociedade e cultura mais abrangentes. A episiotomia é analisada como uma mutilação ritual. A vagina, em diversas culturas, inclusive a nossa, é símbolo por excelência daquilo que é natural, sexualmente poderoso e criativo na mulher, sendo, por isso mesmo, vista como ameaçadora pelos homens. É relembrada a figura mitológica da vagina dentada, que ameaça consumir ou castrar o macho impotente. No ocidente, a crença na superioridade da cultura sobre a natureza se expressa através da metáfora, popularizada por Descartes, do corpo-máquina humano, cujo controle e aperfeiçoamento cabe à ciência. O corpo da mulher é retratado pela medicina como uma máquina inerentemente defeituosa. Os argumentos em prol da episiotomia de rotina reiteram esta simbologia ao afirmar que sua adoção protege a parturiente e seu concepto dos perigos apresentados pelo defeituoso corpo feminino. Para a autora, esse é um dos procedimentos através dos quais se 'manifesta a tentativa cultural de utilizar o nascimento para demonstrar a superioridade e controle do Masculino sobre o Feminino, da Tecnologia sobre a Natureza'. Através dessa operaçào, a vagina é desconstruída pelo médico, oficiante do rito e representante da sociedade, para ser então reconstruída culturalmente. Ademais, a episiotomia é útil conceitualmente para a obstetrícia. Ao transformar o nascimento em um procedimento cirúrgico de rotina, legitima-se a obstetrícia enquanto ato médico, pois se incorpora à sua prática um elemento central da medicina ocidental e uma das formas mais elaboradas de manipulação do corpo-máquina humano - a cirurgia. O ápice desse processo se dá com a adoção da cesariana como procedimento de rotina, sendo o Brasil citado como ilustração."
"Durante meu trabalho de investigação numa grande maternidade jamaicana, havia uma luta constante entre as parturientes e as parteiras, querendo as primeiras levantar-se para se agacharem ou balançarem o pélvis para trás e para a frente, com os joelhos fletidos, e tentando as segundas metê-las na cama, onde deveriam deitar-se sossegadas, como boas doentes. Uma freira da classe média, que estava de serviço na sala de parto, embaraçada por eu, uma pessoa de fora, estar a assistir a isto, disse: 'Não sei como aguenta ver isto. Elas são como animais!' O pessoal estava perfeitamente consciente de que os movimentos executados pelas parturientes não eram adequados a um código de comportamento da classe média branca e sentiam-se envergonhadas. As índias Sia sentam-se num banquinho baixo, enroladas num cobertor, de costas para o fogo, levantando-se e caminhando quando têm vontade. No momento da expulsão, ajoelham-se numa cama de areia, com as mãos agarradas ao pescoço do pai e as costas apoiadas ao corpo da parteira, que está sentada com os braços passados em torno delas, dando-lhes massagens no ventre. Entre os nômades siberianos, a parturiente apoia-se a duas traves paralelas, a cerca de um metro uma da outra, ligadas por uma barra transversal; durante as contrações fica suspensa por baixo dos braços, de modo que toda a parte de baixo do corpo fica descontraída, apoiada à barra. Na Ilha de Páscoa, que constitui uma exceção dado os parteiros serem do sexo masculino, a mulher decide se prefere ficar de pé com as pernas afastadas ou sentada; o parteiro fica de pé atrás dela, apoiando-a com o seu corpo e dá-lhe massagens lentas e ritmadas no ventre.
A posição que a mulher adota durante as últimas fases do trabalho de parto pode variar, desde sentada nas cadeiras e banquinhos usados na Europa medieval (que só se modificou no reinado de Luís XIV, quando os obstetras convenceram as amantes do rei a dar à luz deitadas em mesas demodo a que aquele, escondido atrás de uma cortina, pudesse ver tudo)[apud Pete M. Dunn, "Obstetric Delivery Today", Lancet, April 10, 1976.], até balançar pendurada nas traves da cabana. A posição mais freqüentemente adotada, e que é também a mais vantajosa do ponto de vista fisiológico, é com as costas curvadas, os joelhos fletidos e os músculos que percorrem a parte interior das coxas descontraídas..." (Sheila Kitzinger, Mães - um estudo antropológico da maternidade. Lisboa, Presença, 1978; pp.93-94)
Não existem posições ideais para estar durante o trabalho de parto.
Mas mudar frequentemente de posição, pode ajudar a relaxar e controlar o desconforto das contracções.
Á medida que o trabalho de parto avança, tente varias posições, até encontrar uma que a ajude a sentir-se confortável.
Seja Criativa!
Algumas ideias que podem ajudar..
Balance
Numa cadeira, numa Bola, sentada na cama...
Se estiver numa cadeira pode pedir á sua Doula (ou ao seu acompanhante) para sentar-se no chão á sua frente, e empurrar os seus joelhos, a pressão exercida nos seus joelhos pode ajudar a aliviar o desconforto mas costas.
Dançar
E porque não? Um momento magico com o seu parceiro...
Balançar e andar podem ajudar no trabalho de parto.
Incline-se e sustente-se no seu acompanhante durante contracções, envolva os seus braços em torno do seu pescoço e dance...
É uma óptima posição para uma massagem nas costas.
Inclinar-se para a frente
Se sentir dores nas costas durante o trabalho de parto, inclinar-se para a frente pode ajudar a aliviar esse desconforto.
Use uma cadeira ou incline-se sobre uma cama. Mais uma boa posição para uma massagem nas costas.
Pé em cima da cadeira
Coloque um pé em cima de uma cadeira.
Incline-se delicadamente para a cadeira durante a contracção.
Ajoelhar-se
Mais uma boa posição para estar em trabalho de parto.
Use uma bola de nascimento ou uma pilha de almofadas.
No hospital, levante a cabeça da cama e ajoelhe-se na parte mais baixa da cama e descanse os braços e tronco na parte alta da cama.
Estar de cócoras
Agachar abre a pélvis, dando ao seu bebe mais espaço para descer no canal de parto.
Uma óptima posição para o expulsivo.
Use uma cadeira ou uma cama para a sustentação.
Pode também agachar-se com as costas contra a parede ou entre os pés da sua Doula ou do seu companheiro, que a/o sustenta sentada/o numa cadeira.
Se não poder estar de cócoras esta é uma excelente alternativa para o expulsivo.
Pode pedir ao seu acompanhante para se sentar por trás de si.
Durante cada contracção, incline-se para a frente ou puxe os joelhos.
De gatas
Outra posição alternativa para o expulsivo.
Poderá ajudar no desconforto nas costas, pois alivia o peso nas mesmas. Ajuda o bebe a girar e a posicionar-se melhor para o expulsivo.
Deitar de lado
Pode querer descansar.
Recorde que não há posições perfeitas para o trabalho de parto.
Pode necessitar experimentar varias posições para encontrar as mais eficazes.
"Um dos maiores medos das mulheres que passarão pelo parto normal é o estado que ficará seu períneo depois da passagem do bebê. Esse é também um dos maiores receios daquelas que peitam tudo e todos e pedem pra que não seja feita episiotomia de rotina. Assumir os riscos de uma "tragédia" com o períneo como a gente sempre escuta por aí pode não parecer fácil a primeira vista. Mas se torna muito mais fácil assumir essa posição quando começamos a estudar e perceber que a episiotomia é o vilão de muitos partos vaginais em que a mulher reclama de dores pra sentar no período pós-parto, relata que vai precisar de cirurgia no períneo e reclama da experiência. Uma laceração natural na maioria das vezes envolve um número muito menor de pontos, além de ser mais superficial que o corte cirúrgico da episiotomia. Eu briguei por isso e não tive nenhuma laceração (não levei nenhum ponto no parto)! O primeiro passo foi encontrar um médico que fosse favorável e não cortasse nada antes da hora e também me ajudaram bastante os exercícios e conselhos que aprendi no grupo de gestantes. Além dos exercícios tradicionais de contrair e soltar a musculatura do períneo (prenda e solte o xixi pra testar), nas aulas de yoga treinava bastante a posição de cócoras e me acostumei a ficar também assim dentro de casa ou ao menos não sentar em cadeiras ou sofás, sentando diretamente no chão. Isso facilita bastante a abertura da pelve e aumenta a elasticidade do períneo. Com a mesma finalidade de elastecer o períneo, aprendi um exercício pra fazer com uma bolinha dessas que se dá pro cachorro morder (nem dura nem mole). De todos, foi o mais eficiente! Sentava com as solas dos pés unidas (borboleta), colocava a bolinha embaixo do "ísquio". O ísquio é um osso que constitui a zona inferior da pélvis (quadril) e que apoia o corpo quando estamos sentados. Eu rebolava sobre a bolinha durante algum tempo numa nádega. Depois, invertia o lado. Incrível como logo em seguida dá pra sentir a diferença conseguindo sentar no chão muito melhor!!!
Além disso, vale lembrar que a posição verticalizada (e eu pari de cócoras) já facilita naturalmente a abertura da pelve e a saída do bebê. Durante a saída, foi importante controlar pra que ela saísse suavemente (o médico ajudou pedindo pra parar de fazer força quando ela estava no meio do caminho) ... A alta veio em 15 dias para exercícios e retorno a vida sexual e não houve nenhuma diferença entre antes e depois do parto. As coisas continuam como antes!!!"
Muitas mulheres nem sabem o nome dessa cirurgia, mesmo quando a ela foram submetidas.
Trata-se da episiotomia, corte feito no parto normal para apressar o nascimento do bebê. Acontece que esse procedimento, quase sempre, é desnecessário. Praticada em cerca de 80% dos partos, quando o ideal seria em 20%, a incisão está na mira das autoridades de saúde desde que a Medicina Baseada em Evidências provou que, na maioria dos casos, não protege nem a mãe nem o bebê. Ao contrário, seria responsável por um número maior de infecções pós-operatórias, hemorragias e até rebaixamento da bexiga. Esse último seria um dos fatores que levam à incontinência urinária na maturidade e ocorre porque o obstetra dificilmente consegue recompor a região pélvica como antes. É mais um motivo para acabar com o vício da episiotomia.
Todo mundo sabe o quanto é difícil sair da rotina. Mesmo que seja para melhor. Em se tratando de medicina, a mudança de paradigmas é ainda mais complicada quando enfrenta a resistência dos próprios médicos. E a episiotomia, introduzida na obstetrícia em 1742, entra como um desses hábitos duros de mudar. A incisão no períneo, grupo de músculos que vai da vagina ao ânus, seria uma forma de ampliar a abertura vaginal facilitando a saída do bebê durante o parto normal. Há até uma intenção nobre nesse procedimento. O corte, controlado, poderia ser bem suturado recompondo a musculatura local e evitando uma laceração brusca, irregular e, portanto, de difícil correção. Parecia bom, mas a prática não comprovou a teoria e estudos recentes apontam um aumento no risco de trauma, infecções, hematoma e dor, além de maior tendência à incontinência urinária entre as parturientes que passaram pela cirurgia. "Não existe o efeito protetor que todos imaginávamos. Não é porque se fez episiotomia que a mulher não ficará com a vagina dilatada ou com a bexiga baixa", diz Eduardo de Souza, chefe do centro obstétrico do Hospital São Paulo. Diante desses resultados, a tendência mundial é restringir o uso da episiotomia. No Brasil, uma campanha nesse sentido começou no ano passado. Há dois benefícios relevantes: primeiro, não se faz o corte na mulher (que implica uso de anestesia e risco de infecção), e, segundo, mantém-se a musculatura perineal íntegra, já que nem sempre o obstetra consegue recompor o assoalho pélvico como antes, o que pode facilitar o afrouxamento da região e rebaixamento da bexiga, levando à incontinência urinária. Curioso é que, mesmo com todas essas vantagens, a maioria dos obstetras ainda realiza o procedimento como quem cumpre um ritual. Basta o parto demorar um pouco e pronto. Falta paciência e, pior, falta esclarecimento. "A postura moderna é que se use a episiotomia seletiva, quando o bebê é muito grande e está forçando a região do períneo, por exemplo. Ou quando a musculatura da mulher é muito rígida. Nesse caso, uma rutura no local poderia ser tão extensa que chegaria até o ânus", esclarece Eduardo de Souza. A inexperiência poderia até justificar que se fizesse a episiotomia antes de se ter certeza de que a musculatura perineal não vai suportar a passagem do bebê. Não é bem o caso. A maior resistência à mudança de rotina obstétrica vêm dos médicos mais antigos. Às vezes, por uma questão de puro vício. "Lembro de uma médica que pedia para que lhe segurassem as mãos a fim de evitar que praticasse a episio, como também é conhecida no meio médico", disse a antropóloga americana Robbie Davis-Floyd em visita à São Paulo à convite do Distrito de Saúde de Campo Limpo da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo. A antropóloga informou que nos Estados Unidos, apesar de estar em queda, a operação ainda ocorre em 80% a 90% dos partos normais de primíparas (grávidas do primeiro filho). No Hospital São Paulo o índice é um pouco inferior: 70%. Mas ainda muito acima do desejável quando se sabe que cerca de 20% a 30% dos partos normais necessitam de episiotomia.
NORMA SEM SENTIDO O quadro é semelhante a outro hospital conveniado ao Complexo Unifesp/SPDM, o Hospital Estadual de Diadema. Lá, de cada sete partos normais realizados por dia, cerca de cinco incluem o procedimento. Já é um avanço quando se lembra que antigamente fazia-se episiotomia em todas as mulheres. "Era uma norma sem sentido", diz o obstetra Levon Badiglian Filho, plantonista. "O médico ainda faz a incisão meio que no piloto automático para ajudar a criança a nascer mais rápido. Mas fazer nascer mais rápido não significa fazer nascer melhor." É essa consciência que se espera do médico. Abreviar o parto quando necessário, se o bebê está em sofrimento. Mas manter a integridade do corpo da mulher sempre que possível. O abuso da episiotomia remete a outra questão importante: como o parto é conduzido. Dar à luz na posição inclinada - e não deitada - facilita o nascimento e diminui a episio. Quanto ao medo de lesões, vale saber: "As lesões que se pode causar à mulher ao cortar-se o músculo perineal, entre a vagina e o ânus, são piores do que as pequenas lacerações", diz a enfermeira obstetra Ana Cristina d'Andretta Tanaka, do Departamento de Saúde Materno Infantil da Faculdade de Saúde Pública da USP. Pela experiência de atendimento no Hospital de Itapecerica da Serra, em São Paulo, a enfermeira observou que 50% dos partos normais acabam não tendo laceração alguma. "Na outra metade, a maior parte sofreu lacerações superficiais, de primeiro e segundo grau. Rupturas de terceiro grau, que são um pouco mais profundas, aconteceram em 5% das parturientes, enquanto que nenhuma apresentou laceração grave", conta.