Episiotomia? É melhor cortar para não rasgar?
N Ã O
"A revisão sistemática da Biblioteca Cochrane, atualizada pela última vez em 2009, inclui oito ensaios clínicos randomizados e um total de 5541 parturientes, submetidas à episiotomia seletiva ou rotineira. No primeiro grupo, 28,4% receberam episiotomia, contra 75,2% no segundo grupo. Os autores concluíram que os benefícios da episiotomia seletiva (indicada somente em situações especiais) são bem maiores que a prática da episiotomia de rotina. Os resultados apoiam claramente o uso restritivo da episiotomia, embora não tenha sido esclarecido em quais ocasiões deveria o procedimento ser realizado.
Baseando-nos nesses resultados da revisão sistemática, bem como nas conclusões de diversos outros estudos randomizados já publicados,1podemos afirmar que:
a) Não há diferença nos resultados perinatais nem redução da incidência de asfixia nos partos com episiotomia seletiva vs. episiotomia de rotina;
b) Não há proteção do assoalho pélvico materno: a episiotomia de rotina não protege contra incontinência urinária ou fecal, e tampouco contra o prolapso genital, associando-se com redução da força muscular do assoalho pélvico em relação aos casos de lacerações perineais espontâneas.;
c) A perda sanguínea é menor, há menor necessidade de sutura e há menor frequência de dor perineal quando não se realiza episiotomia de rotina;
d) A episiotomia é per se uma laceração perineal de segundo grau, e quando ela não é realizada pode não ocorrer nenhuma laceração ou surgirem lacerações anteriores, de primeiro ou segundo graus, mas de melhor prognóstico. Verifica-se importante redução de trauma posterior quando não se realiza episiotomia de rotina;
Episiotomia: laceração perineal EXTENSA e PROFUNDA. Músculos seccionados na episiotomia
e) A episiotomia não reduz o dano perineal, ao contrário, aumenta-o: uma prática de episiotomia restritiva reduz o risco de lesão perineal grave; nas episiotomias medianas é maior o risco de lacerações de terceiro ou quarto graus;
f) A episiotomia aumenta a chance de dor pós-parto e dispareunia;
g) A episiotomia pode cursar com complicações como edema, deiscência, infecção (até fasciíte necrosante) e hematoma;
h) A prática da episiotomia acarreta maiores custos hospitalares: Belizan estimou uma economia entre US$ 6,50 e 12,50 por cada parto vaginal sem episiotomia no setor público. A estimativa para o Brasil seria de uma economia em torno de 15 a 30 milhões de dólares por ano, evitando-se as episiotomias desnecessárias.
A recomendação atual da Organização Mundial de Saúde não é de proibir a episiotomia, mas de restringir seu uso, admitindo-se que em alguns casos ela pode ser necessária. Entretanto, a taxa de episiotomia não deve ultrapassar 10%, que foi a taxa encontrada no ensaio clínico randomizado inglês, sem associação com riscos maternos ou neonatais."
http://estudamelania.blogspot.pt/2012/08/estudando-episiotomia.html?m=1