Diogo Ayres de Campos, obstetra, professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e presidente desta comissão, explica os riscos acrescidos de uma cesariana e desmistifica a ideia de que o número de cesarianas está relacionado com bons indicadores de saúde de mães e bebés. "Os países do norte da Europa têm taxas de cesariana que são metade da que temos em Portugal e têm os melhores indicadores em termos de mortalidade dos bebés e das mães." Garante que não está numa cruzada contra as cesarianas, apenas contra as que são desnecessárias e que causam riscos que poderiam ser evitados.
"Os interesses económicos do setor da saúde justificam em grande parte o aumento generalizado do número de partos por cesariana realizados nos últimos anos em Portugal. A conclusão é de um estudo realizado pela Universidade de Aveiro (UA) que aponta, igualmente, que o elevado número de cesarianas efetuado no serviço público de saúde se deve ao facto dos hospitais não terem profissionais suficientes “para que haja tranquilidade” na hora de decidir entre um parto natural e um por cesariana. Perante o cansaço causado por turnos prolongados, e na presença de trabalhos de partos morosos, a decisão pela cesariana tende a ser tomada para evitar a vigília médica durante a madrugada.
Só entre 1999 e 2009, segundo a OCDE, o número de cesarianas por cada 100 nados-vivos realizadas em hospitais públicos e privados portugueses aumentou em cerca de 70 por cento.
“Uma cesariana custa, em média, o dobro de um parto normal”, aponta Aida Isabel Tavares, investigadora do Departamento de Economia, Gestão e Engenharia Industrial (DEGEI) e autora do trabalho realizado com Tania Rocha. “Se o parto for por cesariana, a mãe e o recém-nascido têm que ficar mais dias no hospital do que se fosse um parto normal, o que significa que tem um custo acrescido por cada dia suplementar no hospital”, diz a responsável que aponta que a alta do parto normal é dada ao segundo dia e no parto por cesariana, “se tudo correr bem “, é dada ao terceiro.
“Uma das justificações para este excesso de cesarianas está no problema de informação assimétrica que caracteriza o setor da saúde”, indica Aida Isabel Tavares. “Os médicos são agentes económicos com mais informação do que os pacientes e podem induzi-los a realizar mais consultas, mais exames de diagnóstico ou mais tratamentos do que o necessário para que possam atingir os seus objetivos pessoais”, explica. A este fenómeno dá-se o nome de procura induzida, isto é, induzir alguém a procurar um bem ou serviço. “Neste caso poder-se-á dizer que as mães poderão ser induzidas a realizar cesarianas”, diz.
No setor privado, a remuneração de um médico obstetra é composta por uma componente fixa e outra variável que depende do número de consultas ou de intervenções realizadas pelo médico. Assim, “poderá acontecer que haja incentivos para que os obstetras procurem induzir as grávidas a fazer uma cirurgia [cesariana] e a realizar mais consultas”. Uma situação que significa mais benefícios económicos, quer para o hospital, quer para o obstetra.
Setor público sem tranquilidade para decidir
No setor público os médicos ganham uma remuneração fixa, independentemente das consultas ou das cirurgias efetuadas. Assim, a preferência pela cesariana em detrimento do parto natural não se deve a questões económicas mas organizacionais. A opção pela cirurgia deve-se ao facto de “os hospitais não terem profissionais suficientes para que haja tranquilidade na tomada da decisão mais apropriada” e porque “há equipas a fazer turnos de muitas horas e muitas cesarianas são decididas, na sequência de trabalhos de parto prolongados, no momento do cansaço e antes de entrar pela madrugada adentro”.
As cerca de 27 400 cesarianas registadas em Portugal no ano de 1999, distribuídas pelos setores público e privado, aumentaram para mais de 34 300 realizadas em 2009. A tendência de crescimento mantem-se até hoje. Em 2010 o país registou uma taxa de cesarianas de cerca de 36 por cento (por 100 nados-vivos). Um valor muito acima do recomendado pela Organização Mundial de Saúde que aponta que a taxa não deve ultrapassar os 15 por cento já que a saúde de mães e recém nascidos pode ser afetada com a realização de cesarianas desnecessárias. "
“Yo como sabes tuve una cesárea conocida de antemano, aceptada y esperada. Para mí lo peor, e inesperado, fue no sentir nada hacia mi hija, no reconocerla como hija, no sentir instinto, de tanto dolor como tenía en mi cuerpo, tanto tubo del goteo, tanta cosa...
Pudo más mi instinto de supervivencia como enferma que mi instinto de madre. Y aún hoy lo recuerdo con dolor y arrepentimiento, y han pasado 11 años.”
Uma carta muito especial que a S. escreveu para a sua linda Violeta.
Lisboa, 15 de Setembro de 2010
Meu amor, No dia em que te revelaste a minha vida mudou, ganhou uma luz e uma cor infinitas.
Depois de tantos anos de espera, afinal vieste na hora certa, quando nós menos esperávamos anunciaste a tua vinda de uma forma surpreendente, numa consulta de infertilidade a que eu fui sozinha, um pouco às escondidas do pai! É que ele estava mais seguro de que tu virias!
Fiquei toda orgulhosa da minha barriga assim que soube que já estavas connosco, às 12 semanas de gestação. Foi esse um dos momentos mais inexplicáveis da minha vida, cheio de uma alegria incomensurável.
Após 40 semanas e cinco dias, a saída do rolhão mucoso, que ocorreu por volta das 3h30 da manhã de 5ª feira, anunciou o início do trabalho de parto, o que me deixou contente e entusiasmada... a viagem final havia começado! Voltei a deitar-me tentando esperar serenamente por mais alguns sinais que confirmassem o início da tão esperada viagem e acho que consegui descansar, mas ao longo de um sono intermitente. De manhã avisei o pai de que estávamos próximos de te ver cá fora. As contracções começaram de forma bastante irregular, muito alternadas, com intervalos muito dispares... apelaste desde o início a algo que nunca tive em demasia... calma, muita calma e entrega cega à sabedoria do meu corpo e do amor.
Nesse dia o pai ficou em casa e juntos esperámos que os sinais se fossem revelando para que pudéssemos perceber em que fase estávamos e afinal quantas horas demorariam até te termos nos nossos braços. Ao início fizemos um registo das contracções, mas depois desistimos, o corpo saberia o que fazer.
As contracções foram vindo e intensificaram-se ao longo de um período que acabou por se tornar mais longo do que esperávamos, mas a partilha intensa de cada segundo permitiu que o tempo passasse sem nunca perdermos o ânimo.
Procurei todas as posições, usei a banheira para descontrair enquanto a água morna me escorria pelas costas, pus-me de gatas, sentei-me, deitei-me, mas só o constante movimento parecia ajudar, por isso mantive-me em movimento o mais possível.
Na 6ªfeira à noite o cansaço começou a mostrar-se, mas nunca desanimá-mos e de madrugada vieram as contracções fortes e ritmadas que me fizeram ir buscar forças ao amor imenso que oxigenava o ar. O enfermeiro-parteiro chegou por volta das 5h da manhã e fez-me um primeiro toque. Notei que alguma coisa parecia estranha, mas continuei a fazer o que a natureza me mandava sem duvidar que nos iríamos encontrar daí a algum tempo, fosse ele qual fosse. Comecei a sentir uma enorme vontade de fazer força, mas as forças já estavam a escassear, foi quando o António confirmou num segundo toque que aquilo que sentira anteriormente não era efectivamente a tua cabeça, mas sim uma nádega. Depois de tantos meses em posição cefálica tinhas decidido sentar-te.
Foi o momento de adoptarmos o plano B, seguirmos para a maternidade. Tinha apenas um t-shirt vestida, pus um robe por cima e dirigi-me ao carro.
5 minutos depois, cerca das 9h40 entrámos na porta das urgências da MAC, apenas alguns minutos depois separámo-nos do pai e do sonho que tínhamos tido de ver-te nascer em casa. Levaram-me para o bloco operatório e às 10h12, após uma cesariana, tu nasceste. Tão inesperadamente como te tinhas anunciado nas nossas vidas.
Do que mais tenho pena é de não ter sentido a tua pele nua e macia a tocar a minha, de eu e do pai não termos sido os primeiros a sentir o teu calor, os primeiros a sentir o teu cheiro... durante aqueles minutos é como se te tivéssemos perdido num vazio. Questionei-me sobre a justiça do Universo, depois de tantas horas juntos, os três a vibrar em conjunto, foi-nos tirado esse momento, foi como se houvesse um lapso na nossa história. Estive adormecida no momento em que nos separámos pela primeira vez depois de uma caminhada de 9 meses vivida com tanta intensidade. Gostava de ter-te proporcionado um momento mágico, mas acredito que tenhas escolhido nascer assim, que tenha sido uma conspiração favorável à nossa evolução, afinal de contas, o Plano é perfeito, embora muitas vezes não o pareça aos nossos olhos.
Estava ainda atordoada quando te vi, queria chorar de alegria mas não consegui, senti que nos tinham roubado aquele momento, foi tão estranho, tão confuso, mas só temos o poder de decisão no Agora, por isso preferi seguir em frente e ficar a olhar para ti a beber da serenidade que emanavas, imperturbável, qual anjo capaz de transformar o pior dos momentos. Apaixonei-me assim que te vi, deixei-me perder na tua luz e é assim até hoje, esta linda Violeta que nos escolheu a nós para a acompanhar na sua caminhada e é tão boa esta sensação de que, afinal, apesar de não ter acontecido como planeámos, passámos por tudo juntos, alimentados por um amor que apenas tem mudado para se tornar cada vez mais forte.
Fiquei contente de saber o teu peso... sempre tive medo de pegar em bebés demasiado leves... 3.825 kg, “boa! é boa de pegar”, pensei... o nosso tesouro! E foste sempre a maior da enfermaria, havia quem pensasse que eras um rapaz, a nossa doce Violeta!
“Se soubesse o que sei hoje” não mudaria nada, cada segundo, nada, porque estás aqui connosco e todo este processo foi fundamental aos 3.
Se a forma perfeita de nascer é rodeada de amor profundo, então tiveste o nascimento perfeito, meu amor.
A cesariana electiva ( marcada ), como uma cirurgia abdominal de grande porte, apresenta grandes riscos.
Os dados mais credíveis sobre mortalidade materna encontram-seno "Inquérito Confidencial do Reino Unido sobre Morte Materna" ("UK Confidential Enquiries into Maternal Deaths"). Embora possa ter sido uma política obstétrica omitir o capítulo habitual sobre mortalidade materna relacionada à cesariana, dois cientistas calcularam essa taxa a partir de dados do relatório. (Hall M, Bewley S. Maternal mortality and mode of delivery. Lancet 1999; 354: 776 ) Uma cesariana electiva sem característica de emergência apresentou um risco 2,84 vezes maior de morte materna do que um parto vaginal nas mesmas condições.
Outros riscos incluem a morbidade associada a qualquer procedimento cirúrgico abdominal de grande porte (acidentes anestésicos, danos aos vasos sanguíneos, prolongamento acidental da incisão uterina, danos à bexiga ou a outros órgãos). 20% das mulheres desenvolvem febre após a cesariana, na maioria das vezes devido a infecções.
Existem também os riscos relacionados à existência de uma cicatriz no útero, incluindo diminuição da fertilidade, aborto, gravidez ectópica, placenta abrupta e placenta prévia.
Numa cesariana de emergência em que o bebé apresenta algum problema durante o trabalho de parto, os riscos da cirurgia para o bebé são superados pelos riscos de não realiza-la, mas nos casos em que o bebéestá bem, ainda existem riscos, o que significa que uma mulher que escolhe a cesariana submete seu bebé a um perigo desnecessário.
O primeiro risco é o bisturi lacerar o bebé(de 1,9% nas apresentações cefálicas a 6% nas apresentações não-cefálicas) Smith J, Hernandez C, Wax J. Fetal laceration injury at cesarean delivery. Obstet Gynecol 1997; 90: 344–46.
Um risco muito mais sério é o de complicações respiratórias. O procedimento da cesariana por si só é um forte factor de risco para a síndrome da angústia respiratória em bebés prematuros, e para outras formas de disfunções respiratórias em bebés a termo. O risco de o bebé apresentar a síndrome da angústia respiratória é significativamente reduzido quando se permite à mulher entrar em trabalho de parto antes da cesariana. Outro perigo é a prematuridade iatrogênica, cesarianas electivas após o início do trabalho de parto reduziriam este risco. Tanto a síndrome da angústia respiratória quanto a prematuridade são causas importantes da morbidade e mortalidade neonatais.
- 9.3% dos bebés que nasceram de segunda cesariana foi admitido nos Cuidados Intensivos Neonatais por problemas respiratórios e apenas 4.9% dos bebés que nasceram de um VBAC;
- 41.5% dos bebés que nasceram de segunda cesariana precisou de oxigénio na sala de parto, e apenas 23.2% dos bebés nascidos de VBAC;
- depois de admitidos nos cuidados intensivos 5.8% dos bebés nascidos de segunda cerariana precisou de oxigénio e apenas 2.4% dos bebés nascidos de um VBAC.
Numa pesquisa recente dos EUA, 82% dos médicos utilizaram "obstetrícia defensiva",para evitar processos de negligência. Quando um parto tem resultados negativos, os médicos são processados e criticados por não terem feito uma cesariana, mas são raramente criticados por intervenções desnecessárias. No entanto, esta prática viola um princípio fundamental: todo e qualquer procedimento adoptado pelo o médico deve ser realizado antes de tudo e principalmente para o benefício do paciente.
E em Portugal? será que já ouve algum medico processado por ter feito uma cesariana, ou qualquer outra intervenção desnecessária? Já viram se os médicos começassem a serem processados por fazerem episiotomias? Talvez mudassem os seus comportamentos...
Estudos do Reino Unido e dos EUA mostram não só que os nascimentos acontecem muito mais de segunda a sexta-feira durante o dia, mas também, e mais surpreendentemente, que as cesarianas de emergência são realizadas em dias de semana preferenciais e no horário diurno.
A cesariana leva 20 minutos, enquanto no parto vaginal o médico tem que permanecer no hospital. Quando os obstetras são responsáveis pela atenção materna primária, incluindo as consultas pré-natais de rotina e o atendimento aos partos normais, a conveniência da cesariana é vital para sua prática, como é que eles conseguem no meio das consultas serem chamados para um parto que pode demorar.... 12 horas ou mais...
Era interessante fazer-se um estudo destes em Portugal, no entanto podemos perguntar ás nossas amigas que foram submetidas a uma cesariana, a que dia e a que horas foi... Podemos também analisar a taxa de cesariana nas férias e épocas festivas... Sabemos que antes do Natal nascem muitos mais bebés por cesariana que na semana entre o Natal e o ano novo... porque será?
No sistema privado de saúde, a cesariana é um dos procedimentos cirúrgicos de grande porte mais comuns, lotando leitos e salas cirúrgicas e fornecendo uma importante fonte de rendimento. Os hospitais particulares competem por pacientes e desencorajam partos em ambientes não hospitalares, mesmo quando as evidencias cientificas provam a sua segurança. Interesses comerciais promovem os partos de "alta tecnologia", que necessitam de equipamentos.
As altas taxas de cesariana beneficiam os médicos, os hospitais e a indústria.
Quandoas parteiras são postas de parte da assistência materna, as taxas de cesariana são mais altas. As parteiras utilizam-se de um paradigma diferente ao focar não na potencial anormalidade da gravidez, mas na sua normalidade. PARIR É FISIOLÓGICO!! As grávidas não são doentes!
As taxas de cesariana são menores quando parteiras em vez de médicos acompanhamum parto. A promoção da cesariana faz parte de uma campanha para manter a profissão obstétrica no controle da assistência materna.
O papel de parteira tem de renascer... para bem das mulheres!
Temos de perceber que parir é um acto fisiológico, que pode e deve ser acompanhado apenas por parteiras.
Quando os nossos filhos vão para o infantário, são educadoras que lá estão... não faria sentido nenhum serem pediatras a tomarem conta das nossas crianças... Vamos ao pediatra quando algo não está bem... Assim devia de ser na gravidez... os obstetras só deviam de acompanhar gravidas de alto risco, os acompanhamentos deviam de ser feitos pelas parteiras. No parto, os obstetras só deviam de ser chamados em casos de extrema necessidade.
Deviam de ser as parteiras a acompanhar as mulheres num dos momentos mais sagrados das suas vidas.
Só depende de nós mulheres acreditarmos no nosso corpo e valorizar mais a profissão das Enfermeiras Obstetras.
"Tive uma terceira gravidez espectacular! Não houve enjoos e vómitos como nas anteriores. Não houve o repouso absoluto a que eu já me tinha habituado, houve sim muito trabalho pois a Sara tinha apenas 6 meses quando fiquei grávida do Miguel. Concluo que não tive tempo para os enjoos e afins… A médica marcou-me a cesariana para 18 de Fevereiro mas infelizmente entrou de baixa um dia antes, por doença dela (e grave) não me pôde fazer a cesariana e pior foi que não fiquei com papel nenhum em como tinha cesariana naquele dia. Enfim, a culpa não foi da Drª! Cheguei ao hospital por volta das 8 horas. Burocracias e mais burocracias e fiquei internada. Levaram-me para uma sala, ligaram-me ao CTG e ali fiquei acho que muiiiiiiito tempo. Dormi, acordei, acho que voltei a dormir até que me vieram buscar. Dei entrada no bloco operatório, tinha algumas pessoas já há minha volta quando uma senhora atende o telefone e diz que há uma emergência! Uma enfermeira ficou comigo, ajudou-me a levantar e conduziu-me à sala onde tinha estado. Explicou-me que tinham poucos anestesistas e que como o meu caso não era urgente teria de aguardar! Ali fiquei! Com um ar tão triste que a enfermeira chamou o meu marido que ali ficou sempre comigo! Cheguei até a pensar que ele ia poder assistir. As horas passavam devagar, a ansiedade aumentava mas o facto do Luís estar ali tão perto acalmava-me. Sou novamente chamada para o bloco. Agarrei-me ao Luís e a enfermeira levou-me. Entro no bloco, colocam-me uma série de fios no peito e de repente… quando eu achava que estava quase… entra um médico que diz que a cesariana não pode ser feita! Nova urgência! Foi o descalabro! Chorei enquanto me tiravam os fios e pedi que me trouxessem o Luís! Levaram-me para a enfermaria e logo a seguir lá chegou o meu marido. Eu só chorava. A explicação que nos deram é que como estavam apenas com um anestesista e como o meu caso não era urgente teria de esperar. Pedimos então que me dessem alta. Explicaram-nos que se me fosse embora perderia a vez, se ficasse, no dia 21 seria a primeira cesariana a ser realizada! Não tivemos alternativa, passei o fim de semana no hospital! O dia 21 chegou! Preparadíssima e ansiosa! Só queria que me chamassem e ter o meu filho nos braços! Parece anedota mas aparece-me uma enfermeira e diz-me que não podem fazer a cesariana. O hospital está lotado! PASSEI-ME! Havia uma reunião na sala das enfermeiras e eu, calma e inibida que sou, entrei porta dentro e berrei com todos! Disse-lhes que era uma falta de respeito enorme e que estavam a brincar comigo! Disse-lhes tanta coisa entre gritos e lágrimas que uma enfermeira me levou para a minha cama e ali ficou comigo! O certo é que pouquíssimo tempo depois levaram-me para o bloco e desta vez é que foi! Levei epidural, estava muiiiito nervosa mas em poucos minutos vi o Miguel! Parecido com os manos mas não tão bonito! Estou a ser sincera! Passei as duas horas no recobro, sem dores e quando me levaram para a enfermaria o Miguel foi comigo! Tão bom! Ia agarradinha a ele, aquela pele tão suave, que saudades! A noite foi terrível! Terrível mesmo! Tanta dor mas o apoio da enfermeira foi tão grande que ajudou a aliviar as dores. Sentia-me felicíssima! Trimamã aos 28 anos (a 4 dias de fazer de 29)!
Foram dias muitos dificeis de muita pressão e muita saudade de casa. Cheguei a sentir-me como se estivesse "presa", injustiçada porque não deveria estar ali todo aquele tempo. Afinal de contas estava tudo bem, o Miguel não tinha dado sinais que queria nascer, eu estava ali por causa do mau funcionamento do Hospital e também, eu acredito, porque me faltou a minha médica. É triste mas é verdadeiro, tudo funciona com "cunhas" e estou certa que se ela estivesse presente este episódio não me tinha acontecido e o Miguel teria nascido logo no dia 18! O pós parto foi complicado mas houve carinho e dedicação por parte das pessoas que encontrei, fui bem tratada mas nada apaga o sofrimento daqueles três primeiros dias..."
Como podemos ler neste relato, há pequenos pormenores, como dar a mão, atendimento empático por parte da equipa, etc, que podem tornar a cesariana mais.... "humanizada".
"No final de uma gravidez muito atribulada a médica finalmente marcou-me a cesariana, 5 de Janeiro de 2004, seria o grande dia! No entanto, e depois de um Natal trabalhoso as águas rebentaram por volta das 6 horas do dia 27 de Dezembro de 2003! Ia ter a minha princesa nos braços uns dias mais cedo…
Cheguei ao hospital por volta das 8 horas, mostrei o papel da médica, CTG, banho e burocracias e lá fui eu! Estava super calma! Entrei no bloco operatório e fui super acarinhada pela equipa. Não era a médica que me tinha seguido mas sentia-me muito segura e feliz. Explicaram-me como seria a epidural, sentei-me na mesa, na posição fetal, e levei a picadela. Deixei de sentir da cintura para baixo e fartei-me de rir com a equipa pelo facto de me levantarem as pernas e eu não as sentir.
De repente comecei a ficar mal disposta, só houve tempo de me colocarem qualquer coisa ao meu lado e fartei-me de vomitar. Fiquei melhor e nunca perdi a boa disposição. Havia uma enfermeira que esteve sempre de mão dada comigo (sem que eu lhe pedisse) e isso deu-me um enorme conforto e segurança!
De repente, depois de muito mexerem (às vezes tinha a sensação de que me iam partir alguma coisa), o mais esperado aconteceu! Vi a Sara! Linda, linda, linda! A cara do mano Tiago! Chorei de alegria! A minha filha tão linda e tão perfeitinha! Colocaram-na sobre mim e pude senti-la! Senti-la já fora de mim mas tão pertinho! Recordocomo a pele era suave! Suave e aveludada! Estava tão quentinha e tão linda!
Entretanto, depois de a despacharem, levaram-na e eu fui para outra sala onde fiquei durante umas horas ligada a uns monitores mas super bem! Não tinha dores, sentia-me bem!
Fui para o quarto, tive a família toda à minha volta, o meu Tiago chorava e queria que eu fosse para casa! As dores vieram mais tarde mas tive tanto apoio e carinho por parte da equipe do hospital que se aguentavam! Tão diferente do nascimento do Tiago! Desta vez senti-me logo mãe! "