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Parir em Paz

Parir em Paz

Relato de Parto


A Violência Obstétrica existe! No Dia Internacional Da Mulher deixo-vos o relato de Parto da Bárbara, na esperança que o panorama da obstetrícia em Portugal mude, mas principalmente, que as mulheres portuguesas ganhem coragem para assumir que são as donas do seu parto!
Grata Bárbara pela partilha!

"Dei entrada no hospital no dia 9 de Novembro de 2011, por volta das 15h00.

Por incrível que pareça, dirigi-me ao hospital, não por achar que estivesse em trabalho de parto, mas porque tinha passado o dia anterior e toda a madrugada, com falta de ar e continuava. Também passei a madrugada inteira com contracções mais ou menos regulares, mas pensei que seriam normais, e apenas de preparação, visto o parto só estar previsto para dia 5 de Dezembro (embora a data dos médicos nunca me tenha convencido. Segundo a data da menstruação, o bebé estava previsto para dia 23 de Novembro, ou seja, duas semanas antes do que os médicos calcularam pela ecografia). Há muito tempo que não tinha ataques de asma, e nesse dia foram mesmo muito sérios. Tentei de tudo, mas tive de usar a bomba de emergência.



Se já me sentia mal por usar isso antes de estar grávida (embora muito raramente), agora com o bebé, senti-me péssima, preocupada por estar a prejudicá-lo.
Puseram-me uma pulseira amarela e lá fui eu para a obstetrícia. Mandaram-me despir e deitar, e lá chegou o primeiro toque do dia. O médico disse logo “Você está em trabalho de parto, já com 4 dedos de dilatação”. Logo seguido de um “Confirma, colega?”, colega essa que, sem mais nem menos, me fez outro toque. “Confirmo”. O meu desespero foi gigante, só queria gritar e fugir dali! Toda a minha gravidez andei a planear um parto em casa, com parteira, que me acompanhava há alguns meses, já com a banheira montada em casa, muitos documentários, livros, muitas conversas. Segundo a data da ecografia, eu estava com 36 semanas de gravidez, e a minha parteira já me tinha dito várias vezes que só me faria o parto com 37 semanas. O médico e as colegas (outra médica e uma enfermeira) disseram-me para pedir ao meu companheiro para ir buscar as minhas coisas a casa, pois tinha de lá ficar. Eu disse-lhes “Mas eu quero ter o meu filho em casa! Não quero ficar aqui”. Olharam-me todos como se tivesse um desequilíbrio mental e o médico disse “então decida-se rápido, porque precisamos de saber se vai ou fica”. A minha cabeça andava à roda. Mistura de medos, informações que adquirira durante a gravidez. “Com 4 dedos, já tenho de ficar internada com esta urgência?”. Saí de lá e fui ter com o meu namorado que esperava por mim sem imaginar o que se estava a passar.  Fui a chorar, e mal consegui falar “amor, estou em trabalho de parto e querem que eu fique aqui “. E ele disse “Vamos embora!”. Mas eu recordei-lhe que a parteira não fazia o parto com 36 semanas. Depois de muitos problemas (pois nem eu nem o meu namorado tínhamos saldo no telemóvel, e o telefone do hospital não funcionava) conseguimos falar com a parteira, que me repetiu o que temia “Bárbara, eu não posso assumir essa responsabilidade”. Tudo girava na minha cabeça, eu estava em pânico! Só de imaginar um parto no hospital, toda eu tremia! E tinha de enfrentar! Pensei em ir para casa e ter o bebé sozinha, mas o medo não me permitia, eu não tinha essa confiança. Lá me dirigi à enfermeira, que deu uma lista ao meu namorado de coisas para trazer. Fomos novamente à sala do médico, e já lá estava outro (o que depois me fez o parto). E a enfermeira disse “Pronto, ela decidiu ter o bebé aqui”. Resposta do médico: “Ganhou juízo!” E eu: “Não, é porque sou mesmo obrigada!”. Depois tive de responder a várias questões que me colocaram sobre o parto. Eu disse que não queria ser medicada, não queria estar a soro, não queria que o bebé recebesse qualquer vacina, não queria que me fizessem uma episotomia, a não ser que fosse mesmo necessário, etc.

Lá me encaminharam para a sala de parto. Eu ia aterrorizada. A enfermeira ia-me tentando acalmar, dizendo que o parto no hospital não era aquilo que eu pensava. Lá entrei, e mandaram-me tirar logo a roupa e vestir uma bata. Passado algum tempo entrou uma nova enfermeira, que me colocou questões sobre o meu regime alimentar (sou vegana), sobre os meus planos de parto em casa, sobre os meus desejos, medos, etc. Foi simpática, disse para eu relaxar, e que o parto no hospital não era mau como eu pensava, embora, claro, fosse bem diferente daquilo que eu planeara para casa. Disse que podia andar à vontade pelos corredores, que se quisesse podia tomar banhos de chuveiro, que não tinha de ser monitorizada o tempo todo, que podia beber, que não me ia colocar soro. Pediu-me apenas para canalizar uma veia, sem soro, para qualquer emergência que pudesse surgir. Permiti. Passado um bocado entrou uma senhora que disse que era a parteira que me ia auxiliar durante o parto. Conversamos durante algum tempo, disse-me que raramente fazia episiotomias, só em último caso e que me permitiria ficar sentada na marquesa para ter o bebé, e que não precisava de pôr as pernas nos apoios. Foi muito simpática e mostrou bastante abertura e paciência. Pediu-me para eu me deitar na marquesa, mas eu disse-lhe que não queria estar deitada, e que deitada as dores aumentavam muito (era realmente muito pior). Ela disse para me deitar só um pouco para colocar as cintas, e que depois me podia sentar. E assim foi. E pediu-me para fazer novo toque. Eu não mostrei vontade alguma, e ela insistiu, dizendo que era necessário para saber a evolução do trabalho de parto. E pronto, terceiro toque. Tinham passado cerca de 3 horas desde que chegara. Ela disse que tinha progredido para 5 dedos. O meu namorado e a minha mãe, que tinham chegado há algum tempo, iam-me fazendo companhia, um de cada vez. As minhas contracções eram regulares, cada vez mais difíceis de suportar, mas eu lá me ia aguentando. Fui tomar um banho com ajuda do meu namorado, caminhava sempre que me apetecia, mas a maior parte do tempo optava por estar sentada, e era assim que me sentia mais confortável. Várias vezes fui à casa de banho. Embora a parteira me tenha dito que a avisasse caso sentisse vontade de fazer cocó, porque tinha de fazer toque para ver se não seria o bebé a querer sair, eu fiei-me no meu instinto e fui à casa de banho várias vezes aliviar o intestino. Senti que o meu corpo estava a limpar para o trabalho de parto. Meia hora mais tarde a enfermeira pediu-me para fazer novo toque e eu disse que não queria. Ela insistiu várias vezes, aparecendo no quarto, dizendo que não me podia ajudar a calcular o tempo que ainda ia demorar, sem eu a deixar fazer o toque. E eu lá permiti. Foi horrível!!!!!! Sempre me disseram que quando se faz um toque, tem de ser no intervalo entre contracções. Quando ela me estava a tocar, disse-lhe que ia começar uma contracção e ela CONTINUOU. Eu gritei desesperada que ela parasse, e ela continuava! Saiu do quarto sem me dizer o que quer que fosse. Passadas cerca de duas horas, a parteira veio novamente ao quarto e pediu-me para fazer novo toque. Eu disse que não queria, e contei-lhe o que aconteceu e ela disse que ela não me ia magoar. Permiti e ela disse que estava com 6 dedos. Perguntei-lhe quanto tempo iria demorar ainda, e ela disse que quase de certeza seria ela a realizar-me o parto. O turno dela terminava às 23h. A minha tarde e início da noite foi passada entre o quarto, com namorado e mãe, os corredores, a casa de banho, muitos medos, nervosismo. Mais tarde ela veio falar comigo. Disse que estava a progredir, mas que não tão rápido quanto ela supunha. Disse que até era bom para mim, porque embora progredisse lentamente, ia tolerando melhor as dores, e que com certeza, no momento da expulsão ia ser tudo muito rápido e que o pior eram aquelas horas de contracções. Fiquei muito triste. Estava já à vontade com ela, com alguma tranquilidade, e agora o turno ia mudar. Passado um bocado, veio apresentar-se a nova parteira, muito mais nova. Colocou-me diversas questões, voltou a monitorizar-me. Passado um pouco, a máquina começou a apitar (eu tinha mudado de posição, tinha tentado inclinar-me um pouco para trás). Ela disse que o bebé estava com os batimentos muito acelerados. Eu expliquei-lhe que tinha mudado de posição, e que as batidas estabilizaram mal me coloquei como sempre estivera. Ela mostrou cara de poucos amigos e disse que se voltasse a acontecer, eu tinha que me deitar como todas as mães e ponto final. A minha mãe, que estava comigo, teve de se despedir. Eles não permitiam estarem duas pessoas. Despedi-me dela por volta da meia-noite. Logo a seguir entrou o médico, a calçar as luvas, com a parteira, outra médica (que reconheci das consultas) e uma auxiliar. Eu disse que não queria fazer mais toques e ele disse que tinha de ver, que o bebé podia estar em risco, bla bla bla. Lá permiti, mais uma vez (é incrível como tudo que aprendemos durante meses, se perde e abandona quando o medo nos invade). Magoou-me imenso. Disse-me que tinha 7 dedos e que estava a evoluir tudo muito lentamente. Saíram e entraram passados minutos, e ele informou-me que tinha de me romper a bolsa. Eu gritei logo que não e o meu namorado também. Ele disse que tinha de ser, porque tinham de ver se havia mecónio no líquido, para avaliar a condição do bebé, e que não tinham a noite toda para esperar pela evolução da dilatação. Eu disse que não novamente, e a outra médica começou a falar, a repetir que era extremamente necessário. Eu disse que não, agarrada ao meu namorado, deitada na marquesa, e o senhor doutor agarrou-me nas pernas, ajudado pela parteira e rompeu a bolsa de águas, comigo aos berros, a chorar, a gritar que não, e com o meu namorado sem perceber bem o que se passava. Romperam, viram a água límpida, e saíram todos como se nada fosse. Fiquei agarrada ao meu namorado aterrorizada, a tentar explicar-lhe o que me tinham feito, e o que com certeza ia começar a acontecer agora. E assim foi, quase de seguida as contracções retomaram multiplicadas por mil. Considero-me tolerante à dor, mas as dores que senti, de repente, não têm descrição possível. Eu berrava com toda a força dos meus pulmões. O meu namorado saiu e passado um bocado entrou a comitiva toda novamente, seguida do meu namorado, e ouvi o médico dizer que já tinha a mostarda a chegar-lhe ao nariz por causa das nossas exigências, avisos, etc. Tanto o médico como a parteira, começaram a dizer uma frase que ouvi dezenas de vezes na hora e meia seguinte, até ao bebé nascer “Vê? Está a sentir essas dores porque quer. Podia estar bem, tranquila, a ver o seu filho nascer, mas está aqui a sofrer como nos tempos antigos, como na selva. Nós queríamos ajudá-la, mas não quis ser ajudada, agora tem de aguentar”. As dores aumentavam cada vez mais e eu gritava, gritava, gritava. Eu gritava que queria morrer, que me matassem, e era realmente isso que desejava. Podem chamar-me fraca, mas só eu sei as dores por que passei. Por mais que digam que as dores de parto são fortes, eu tenho a certeza que as dores que estava a sentir não são as dores “normais” de parto, dum parto que decorre de forma natural. Diziam que fizesse força no rabo, e que me agarrasse às alavancas dos lados como se fossem remos. Eu dizia que me queria sentar, e não me permitiam!!!!!!! Disseram para esquecer o que a outra parteira disse, que as regras eram deles e ponto final. Quando eu me tentava levantar, eles empurravam-me para baixo e forçavam-me a posição. Puxava, puxava e não sentia o bebé ou evolução de algum tipo. Eles iam tocando diversas vezes, dizendo que se estava a aproximar, mas eu não acreditava e realmente naquela hora, o que eu queria era partir, que me desse qualquer coisa no coração e morresse. Pedi que me dessem algo para as dores, disseram que era tarde demais. Injectaram-me qualquer coisa mas não senti nenhum tipo de melhoria. Disseram que ele estava próximo, e que o namorado podia empurrar na barriga para ajudar, mas eu gritei que não, pois quando demonstraram, as dores aumentaram ainda mais! Durante este tempo (da meia noite à 1h25) entraram várias enfermeiras e auxiliares no quarto. Eu, de pernas abertas, aos berros, sentia-me uma aberração num circo, que todos queriam ver. E ver a cara do médico a rir-se para as colegas, que se riam também, aumentava ainda mais o meu desespero. Riam, apontavam, segredavam baixinho. Algum tempo depois o médico disse que me ia fazer uma episiotomia. Eu gritei que não, que conseguia parir sem ser cortada, e ele respondeu “desculpe, mas eu tenho o meu nome a defender. Não vou permitir que haja uma laceração (e referiu um cenário qualquer negro a nível intestinal que não me recordo bem) só porque a menina decidiu que quer um parto sem intervenção”. E começou a injectar-me uma anestesia. Passado um pouco, cortou-me. Revejo-me ali deitada, de pernas abertas, a berrar como nunca vi ninguém berrar, rodeada de caras que se riam, que olhavam com nojo, com o meu namorado sempre a discutir com eles, sangue, medo…
Disseram-me que já se via o menino, que estava quase, e eu lá continuei, desesperada, a achar que eles estavam a mentir, pois eu não sentia nada a descer, só uma dor insuportável. Disseram que na próxima vez ele saía, eu puxei, e vi-os agarrar nele. O meu menino, todo roxinho, com o cordão à volta do pescoço. Tiveram de cortar imediatamente, porque não dava para tirar pelo pescoço, de tão apertado que estava, tentaram aspirá-lo e correram todos para fora da sala com o meu pequenino. Fiquei eu, aliviada pela expulsão, sentindo-me numa dimensão à parte, sem emoções, e o meu namorado, a chorar e a dizer “eu vou processá-los! Eles levaram o meu filho! Aconteceu alguma coisa! E agora? O meu filho” E eu sem lhe conseguir responder. Eu sentia um vazio dentro de mim como nunca senti. Estava mesmo fora deste mundo. O meu namorado estava desesperado, a andar dum lado para o outro, a chorar. Uns minutos depois, entrou o médico e disse que o bebé estava bem e também “Se tivesse tido o bebé em casa, como queriam, ele teria morrido. Tivemos de aspirá-lo, dar-lhe oxigénio e reanimá-lo. Vê?” e voltou-se a sentar à minha frente e começou a apertar a minha barriga com a maior força. Apertava, tocava-me, e eu gritava. Algum tempo depois, saiu a placenta (parece que foi arrancada à força). Entraram novamente as enfermeiras, com o bebé e puseram-no em cima de mim. O médico estava, literalmente, a puxar o cordão com toda a força, enquanto me apertava a barriga com uma força monstruosa (fiquei com a barriga negra). Senti-me pessimamente com aquele ser em cima de mim, num momento que devia ser de amor, de felicidade, e o médico a arrancar algo que deveria sair naturalmente, a sentir dores fortes com o meu bebé em cima. Pedi ao meu namorado que pegasse nele. Sinto-me muito mal por ter vivido assim esse primeiro contacto. Tudo tinha sido imaginado de forma tão diferente…
O médico começou-me a coser, depois de me ter dado anestesia, mas eu senti os pontos… eu só pensava que a tortura nunca mais acabava… o que poderia acontecer-me mais???
Foram lavar a cabecinha do meu bebé (o meu namorado foi também) e depois voltaram e disseram que lhe tentasse dar de mamar. Ele pegava um pouco no mamilo, mas ainda não sugava muito bem, e largava. A enfermeira saiu apressadamente da sala (5 minutos depois) e regressou dizendo “Olhe que eu fui falar com a pediatra e ela disse que se daqui a 10minutos o bebé não mamar direito, temos de lhe dar fórmula”. E eu “O quê? Está-me a dizer que por ele ainda não mamar bem nos primeiros 5/10 minutos de tentativas, já lhe quer dar leite de vaca??? Nem pensar! Ele vai conseguir mamar”. E pouco depois começou a mamar. Ela ficou a espreitar e ainda disse “Não sei se ele está mesmo a mamar”, mas depois lá se convenceu. Absurdo!!! Só de pensar na quantidade de bebés que começam logo a tomar leite de vaca. E entendo cada vez mais por que tantas mulheres dizem que ficaram logo sem leite… Pouco depois mandaram-me trocar de marquesa para me levar para outro quarto. Fiquei muito aliviada por sair daquele quarto horrível onde sofri tanto. Só queria estar no meu canto, olhar para o meu bebé e sentir paz, finalmente. O meu namorado teve de sair, porque não permitiam que ele ficasse lá.
O parto foi à 1h25 do dia 10 de Novembro, e saí do hospital no dia 12, às 15h30. Nesses dois dias que fiquei no hospital, fui bem tratada pelas enfermeiras e auxiliares. Quando tinha de falar com algum médico, ouvia comentários “Esta é que é a tal” e coisas do género (surpreende-me imenso que as pessoas achem que se falarem baixo, não se consegue ouvir). Quando disse que não queria vacinas, lá me mandaram falar com o pediatra e assinar um papel. Quando disse que não queria dar banho ao bebé no hospital, escreveram logo isso no boletim do pequenino, como se tivesse deixado de fazer algo vital para a saúde dele. E no último dia, quando fui ao médico para me dar alta, fui tocada por uma médica (que devia ter menos 10 anos que eu), que conseguiu ser mais bruta que todos os outros que me tocaram na minha penosa estadia no hospital. Começou a arrancar-me uns coágulos com as mãos enquanto me apertava a barriga com força, e eu gritava e tentava tirar-lhe as mãos. Virou-me uma cara e disse “por favor, não me toque.” E eu disse que me estava a magoar imenso e ela disse que eu era muito sensível… Foi horrível. Depois foi ao lado do médico e disse baixinho “esta paciente tem coágulos de placenta”. E mandaram-me fazer uma ecografia. FELIZMENTE já não tinha mais nenhum. Quando me fui vestir à casa de banho, banhada em lágrimas, ouvi-a dizer “Esta é que é a tal vegetariana”. E mal saí o médico disse “Então, o que vai fazer em relação à contracepção?” E eu fiz-me de burra para evitar novos conflitos e disse “não sei, o que sugere?” E ele deu-me duas caixas de pílulas e eu disse “Tudo bem”. Ela sabia que eu recusava qualquer medicação e estava à espera que fizesse o mesmo agora, mas eu só queria sair daquele hospital!!!! Estava desesperada! Só chorava, estava em pânico. Os médicos olhavam-me todos com má cara, e eu já temia que me tentassem tirar o meu bebé e me acusassem de negligência por ter rejeitado vacinas, medicações, banhos. Quando o meu namorado chegou, queria sair a correr, mas tivemos de esperar que a enfermeira nos desses os papeis. Por fim, chegou e fomos embora. Chorei o caminho todo entre o hospital e a casa. Sentia-me violada da forma mais profunda possível. Não há palavras que descrevam correctamente o inferno que vivi principalmente dentro de mim. Tanta dor física, tanta dor emocional. Fui abusada nos mais diversos níveis. Agarraram-me, magoaram-me, abriram-me, coseram-me, arrancaram as minhas entranhas, acusaram-me de ser má mãe, fizeram-me desejar a morte e o pior de tudo, fizeram-me acreditar, que a qualquer momento me iam tirar o mais importante da minha vida: o meu filho.
Hoje, um mês depois, choro e revejo tudo com grande dor. E pior do que toda a dor física que vivi, é este medo de que o meu filho não se conecte a mim como poderia num parto calmo, natural… Quando ele mama sem me olhar nos olhos, quando ele afasta a mãozinha dele quando lhe toco, invade-me o terror de acreditar que ele não me vai amar. Peço-te perdão por teres nascido num ambiente tão frio, tão atroz, mas a mamã não conseguiu fazer melhor… Desculpa ter gritado que queria morrer quando ainda por mim descias… Como é que a coisa mais preciosa da minha vida nasceu do momento mais terrível que poderia viver? Perdoa-me, meu filho… A mamã queria que tudo tivesse sido diferente, mas não conseguiu… Olho para ti neste momento, e só espero que, juntos, consigamos ver para além do sofrimento, e que transformemos este tormento, no maior amor do mundo. Amo-te, meu filho… "

Bárbara Gizela

Relato de Parto - Flor

Foi assim que nasceu a Flor...
Um Vbac em casa...
Que privilegio ser Doula e assistir a Amor verdadeiro!

Grata! Grata! Grata!

Agradeço à Patricia e ao Alex por partilharem comigo um acto tão sagrado, tão divino...

Agradeço à Ana por partilhar comigo a sua amizade

Agradeço à Flor por me ter escolhido como Doula

Foi sem duvida um nascimento lindíssimo que jamais esquecerei :)


"Passaram dois meses e meio desde que a Flor nasceu. Tudo começou com uma vontade mutua de ter outro filho. Um desejo profundo e divino. A viagem começou no coração e terminou no coração.Com uma força incondicional – o Amor.

Dia 25 de Março de 2011 soube que ia ser mãe pela 2ª vez. Foi uma alegria imensa. Mas também um medo profundo de não ser capaz, de não estar à altura, de não controlar o que podia acontecer. De não merecer. Mais tarde, soube que a minha melhor amiga ia ser também mãe. Iamos passar juntas por uma experiência extraordinária. Apenas tinhamos 10 dias de diferença.

Mas o meu ego trouxe logo ao de cima os meus medos. As minhas dúvidas, aquela vozinha na cabeça que não se cala:” e se isto aconteceu é porque algo de mal me vai acontecer, ela vai ter a criança e eu não!”. –entre outros pensamentos do género.

E como o Universo é um fotocopiador perfeito, quando estava de 7 ou 8 semanas tive uma ameaça de aborto. O meu mundo desabou! E todos os meus medos tomaram forma. Foi um periodo pelo qual estou muito grata, pois serviu para resgatar muita coisa. Consciencializar e limpar muito karma. Pude estar em contacto com quem eu sou de verdade. Obrigou-me a encarar o meu lado sombra e o meu eu verdadeiro começou a nascer nessa altura!

Vivi muita impotência, abdiquei de muito controlo, aprendi a agradecer e a merecer aquilo que me é dado com as mãos abertas, e o que é mais, importante o coração!

Muito importante foi perceber que não estou sozinha e que não me defino pelo exterior e pelo que me acontece;e sim pela minha escolha de como reagir a algo.

Este acontecimento aumentou a minha fé e proporcionou-me uma redescoberta da minha essência. Demonstrou que posso viver mais o presente e perceber que posso entregar ao céu que ele cuida.

Hoje acredito qure foi tudo isto que me possibilitoucomeçar a preparar para ter um parto como a minha alma desejava.

Foi um mergulho até ao fundo de mim para poder perceber que tudo é possivel. Que podemos ousar e voar mais alto de forma mais verdadeira, sem amarras sociais, fisicas ou de conhecimento.

Desde o inicio que ouvia falar dos partos em casa, mas achava que não seria capaz, que era preciso estar muito segura, que os meus medos não me iriam permitir parir fora do Hospital, da rede de segurança dos médicos e dos seus aparelhos milagrosos, depositando assim a responsabilidade e o poder sob o meu corpo em mãos alheias.

Mas lá no fundo eu sabia que a minha alma não partilhava desta opinião!

O medo nunca é bom conselheiro. Há muito que a minhaalma me pedia esta escolha, como forma de se exercer. Mas o ego não deixava; os medos eram realmente muitos.

O meu primeiro filho nasceu de cesariana; mas de há 5 anos para cá eu mudei muito e senti que estava na hora de confiar. De quaquer forma não quis deixar de por todas as hipóteses, caso houvesse necessidade, e por isso fui visitar o hospital de cascais. Na verdade depois de ter tido acesso a toda a informação que a Catarina( minha doula)me facultou e que são directivas actuais da OMS, fiquei perplexa com o conteúdo desactualizado e também com a forma arrogante, presunçosa do discurso da enfermeira que nos recebeu. Decididamente há ainda um longo caminho a percorrer e as mulheres deste pais têm que começar a reclamar o seu poder perdido sobre o seu corpo e vontade neste momento tão importante que é ser mãe.

Resumindo,senti que depois de entrar neste sistema, deixaria de ser dona do meu corpo e da minha vontade e seria aberta a porta a uma série de intervenções que levariam concerteza a uma cesariana. Sendo que a responsabilidade deste evento tão lindo e marcante que é um parto, passaria para as mãos de pessoas que não conhecia que não me iriam incluir no processo.

A verdade é que este padrão sempre esteve presente na minha vida – desresponsabilizar-me por mim, não escolher, abdicar desse poder em prol dos outros. Esperar que me digam o que fazer, para onde ir, o que dizer, o que parece mal ou não, o que é esperado. Sempre a viver segundo o que esperavam de mim e com a pressão de errar, de não ser capaz.Na verdade os maiores medos que encarei com todo este processo foram o medo de sentir, de não ser capaz e de estar sozinha.

Assim, sai do hospital com a profunda convicção de que não era aquela experiência que eu e a minha bébé queriamos para nós. Mereciamos algo diferente e mais que tudo:sentia no meu coração que estava profundamente preparada para um parto em casa.Onde eu pudesse ser a mulher que exerce o seu direito de escolher o que quer para si e para o seu corpo.

E quando é um apelo da alma, tudo se torna possivel, por isso, a parteira e a doula que até ai não estavam disponiveis, passaram a estar.

Assim, fomos conhecer a parteira - a minha querida Ana - numa quinta feira e a Flor nasceu na 4ª feira seguinte.

Após o encontro com a Ana o meu coração descansou, pois senti que aquela Alma era a certa para me poder acompanhar neste evento tão importante e maravilhoso da minha vida.

Até o próprio factor monetário, que era algo que nos preocupava, pois teríamos que pagar às prestações, foi resolvido, pois quando a Flor nasceu, o meu pai deu-nos uma grande prenda que resolveu todas essas questões.





“O parto”

Na 2ª feira durante a noite, comecei com contracções que eram diferentes das que tinha sentido. Tinham uma cadência certa e eram mais fortes.

Assim, telefonei à Ana, que prontamente se meteu ao caminho vinda de Évora e de manhã cedo já estava em minha casa trazendo a sua simpatia e também aparelhos e material necessário.Fez-me o ctg, o toque e percebi que ainda era falso alarme.Estava ainda tudo muito verde!

Por isso, quando a Catarina chegou, fomos dar um passeio no paredão para ver se as contracções começavam a vir com mais intensidade e ritmo. Realmenteaproveitámos muito bem a manhã, almoçamos muito bem num restaurante em Oeiras, mas as contracções estacionaram.

Assim, à tarde a Ana e a Catarina foram-se embora com a promessa de voltar assim que fosse preciso.

Hoje, vejo que este dia foi como um testar de que tudofuncionava quando fosse a hora. Pois um dos meus medos era não perceber quando devia chamar a parteira e doula para que chegassem a tempo de me ajudar no processo. Assim vi que tudo funcionava e podia acalmar e deixar fluir.

Ao fim da tarde as contracções começaram outra vez econtinuaram toda a noite.

Agora ainda mais intensas, o que me impossibilitou de dormir. Mais uma vez telefonei à Ana, que com a sua experiencia, me aconselhou a tomar um banho de imersão para ver o que acontecia. Na verdade as contracções ficaram um pouco mais fracas, mas já não passaram,sendo que a cadência era de 3 em 3 minutos.

E assim, por volta das 10 horas a Ana estava em minha casa e a Catarina também.

Após um toque, vimos que estava mesmo no inicio – deveria ter 1/ 2 dedos de dilatação. Durante todo este período senti que me podia exprimir e fazer o que achasse mais confortável para mim. Pude comer, beber água – na verdade, bebi um chá de parto que a Ana fez ( o chá de parto é um modo natural para intensificar as contracções) que juntamente com a reflexologia da Catarina ajudaram ao evoluir do processo.

A esta distancia, vejo que vivi um momento de cada vez, senti uma contracção de cada vez, absorvi cada bocadinho com calma, um a um, de cada vez! Como se de uma escada fosse, em que temos de subir um degrau de cada vez, sem medo, só com a consciência de que o nosso corpo é mestre e que somos capazes. Na verdade, ao longe, sentia que o Alex, a Ana e a Catarina estavam lá para me apoiarem, motivarem, mimarem e me darem asegurança que precisava para continuar; mas no centro da “imagem” estava eu e a minha bébé.

Nós fomos as actrizes principais, numa dança linda, fluída de trabalho de equipa.Também senti Jesus, durante todo o processo, enorme no seu amor incondicional e o meu Eu Superior, que estiveram lá a apoiarem-me neste caminho de dar à luz!

Para os que possam pensar que estou a “dourar a pílula”, não pensem que não tive dores! Claro que tive! E ainda bem; pois foram elas que me guiaram na direcção certa, me permitiram sentir o que tinha que fazer. Gritei muito! E ainda bem; pois foram esses gritos que me ajudaram a abrir o Canal, a abrir o meu corpo para trazer a Flor ao mundo! Desenganem-se aqueles que pensam que sentir dores de parto é o mesmo que sofrimento e solidão! Não tem de ser! Para mim não foi! São uma experiência que norteia e indica o caminho!

Permiti-me sentir tudo; cada lágrima, cada dor, cada sorriso, cada toque, caricia, beijo, grito e agradecer esta benção!

Nos momentos em que me apeteceu desistir, mesmo antes da fase da expulsão, pude contar com a experiência daCatarina e da Ana. A quem agradeço, do fundo do coração, pois souberam respeitar ritmos, vontades, silêncios. Como uma força imensa, que apesar de discreta, foi essencial para me ajudar. Uma força feminina imensa que me ajudou a reconhecer um poder que não me lembrava que tinha – um poder sagrado do corpo feminino, que unido à vontade da alma é capaz de Tudo!!

Assim, nasceu a Flor, no sofá da sala, depois do processode parto ter sido feito maioritariamente na bola de pilates. Eram 19,22h do dia 16 de Novembro de 2011 quando a vimos pela 1º vez.

E ai tudo desapareceu no momento em que lhe peguei ao colo, em que a beijei e por entre lágrimas lhe disse que a AMO.

Este diário de parto não fica completo sem fazer aqui um grande agradecimento ao meu marido, que soube estar onde era preciso, tanto na cozinha a fazer Humus, com a ir às compras, ou como a segurar-me e acariciar-me entre contracções.

Obrigada pelo teu Amor incondicional e por seres quem és – uma força discreta, mas tão forte na sua presença e apoio. Por aceitares e teres combinado de alma para alma viveres esta experiência comigo!

Por fim, termino agradecendo de alma e coração ao céu por esta experiência. Ela ficará para sempre gravada no meu património emocional e será sempre revivida em todo o seu Amor incondicional.

Permitiu-me resgatar o meu próprio parto, pois desde aíque tinha abdicado do meu poder de escolha, delegando sempre fora a responsabilidade, que é minha.

A vida tem outro sabor, quando escolhemos independentemente se acertamos ou errarmos, Afinal nada é perfeito e só atraimos o que nos faz evoluir!Obrigada!!! "

Relato do nascimento do Tomás

E foi assim que nasceu o Tomás... nasceu também uma nova mãe/mulher... um novo pai.... uma avó... duas irmãs.. uma nova família!!! Só lhes posso agradecer pelo carinho, pela confiança e por terem partilhado comigo um dos momentos mais íntimos da sua vida....


Quando tive a minha filha mais velha, há seis anos atrás, não podia imaginar a sorte que acabava por ter ao poder ter um parto vaginal, às 42 semanas e 1 dia, após mais de 24 horas de ingresso hospitalar, após um episódio de herpes genital aos 5 meses de gravidez...

Estava em Espanha e por mero acaso acabei por ir parar a uma maternidade onde o protocolo parecia ser o de reservar as hipóteses de uma cesariana às situações estritamente emergentes e explorar todas as alternativas possíveis antes de avançar com essa decisão.

Mas isto, como disse, foi por mero acaso. Curiosamente, saí daquela primeira experiência com a sensação de que aqueles médicos e enfermeiros tinham salvo a minha vida e a da minha filha... que nasceu com os olhos totalmente arregalados e uma expressão apavorada que não consigo esquecer.

Apesar de me terem permitido esperar até às 42 semanas, quando as contracções se fizeram sentir com alguma intensidade e decidi passar por lá já não me deixaram sair, devido ao tempo de gestação, pois mesmo que não estivesse em trabalho de parto, iriam induzir, de qualquer forma. Assim, deram-me uma droga qualquer para me manter quieta e caladinha durante a noite, apesar das contracções, que podiam muito bem ter sido aproveitadas e assim fiquei, à espera que a manhã trouxesse o obstetra que ia parir a minha filha. Já no dia seguinte, e até às 21 horas desse dia, quando a Beatriz finalmente cedeu e decidiu sair (eu no lugar dela também não estaria com muita vontade de vir cá para fora...), tivémos tudo a que tínhamos direito: oxitocina no soro e dores de enlouquecer, amniotomia, CTG contínuo e enfermeiras simpáticas a queixar-se da doentinha travessa que não parava quieta para deixar ler o registo, epidural, internos, médicos e sei lá mais quem a entrar à bruta sem sequer um bom dia para ver se “aquela já estava madura”, transferência para a sala de partos aos 5 cm por aparente bradicardia fetal, 5 análises de PH à bebé (tiraram-lhe amostras de sangue da cabeça – 5 vezes) para confirmar se realmente estava com falta de oxigénio, que não levaram a nenhum resultado conclusivo, já que me chegaram a dizer que não sabiam se o que estavam a apanhar era o coração do bebé ou uma veia minha (o CTG é realmente a invenção do século), kristeller, fórceps e, como não, uma bela episiotomia... e apesar de tudo isto, quando voltei a engravidar e a pensar num segundo parto descobri que, afinal, até tinha tido sorte!!

Costumo dizer na brincadeira que, antes de parir o meu segundo filho, pari o meu parto e isto não deixa de ser um facto. Quase seis anos após o nascimento da Bia, em Espanha, com todos os recursos tecnológicos mais avançados ali à mão, encontrava-me agora a viver em Angola, e a pensar seriamente em como fazer na altura do parto já que, da primeira vez, a minha vida tinha sido milagrosamente salva por uma grande equipa de bons especialistas e ali, infelizmente, não contava com esse recurso. Decidi então que o meu filho viria nascer a Portugal.

A nossa viagem começou aí pelos 4 meses de gravidez, quando comecei a contactar hospitais e serviços que aceitassem algum tipo de acompanhamento à distância. Inicialmente, achei que o melhor seria optar por um destes novos hospitais privados, onde pudesse estar segura que tinha à mão tudo o que há de mais moderno e que, graças a isso, tudo correria bem... pura ilusão!

Mas calhou ter que ficar umas semanas em casa e ter tido mais tempo para pesquisar informação útil e foi aí que comecei a descobrir um universo feminino com o qual ainda não me tinha atrevido a conectar. Começo a ler sobre doulas, parto humanizado, parto domiciliar... e descubro com alguma revolta que, no meu primeiro parto a nossa vida não só não fora milagrosamente salva por aquela equipa (da qual não recordo um nome ou mesmo um rosto), como o processo ainda tinha sido completamente boicotado pela cascata de intervenções que foram feitas.

Com algum desgosto, descubro também que, se tivesse sido em Portugal as hipóteses de ter escapado a uma indução ou mesmo a uma cesariana programada, já que tivera herpes genital aos 5 meses de gestação, eram quase nulas.

Desde aí não parei de ler, de me deslumbrar, de me indignar e de pensar e repensar o que eu realmente queria para este segundo parto. Descobri o fantástico blog da Catarina e passei a acompanhá-lo regularmente. Contactei-a, já decidida a ter uma doula e contente e agradecida por, graças a ela, ter tanta informação de qualidade acessível de uma forma tão simples. Tive resposta e mantivémos o contacto ao longo dos meses que se seguiram.

De início, decidi ter uma Doula mas nem pensar noutra hipótese que não o parto hospitalar... a essas alturas parecia-me uma aventura demasiado arriscada pensar num parto domiciliar, principalmente porque achava que ia ser muito difícil vir a ter o apoio do meu marido nessa decisão e também porque, à distância que estava das pessoas que me poderiam acompanhar no caminho dessa decisão, seria difícil haver um tempo e um espaço de discussão e reflexão. De qualquer maneira, e como quem não quer a coisa, fui deixando “cair” pelos cantos da casa artigos e informação de todo o tipo sobre humanização, parto natural, etc, etc...

O certo é que quanto mais lia e me informava e à medida que a gravidez avançava tranquila e saudável, menos o parto hospitalar fazia sentido para mim. Foi aí que comecei a colocar a hipótese de o hospital fazer parte apenas do plano B. E, sem comentar com ninguém, contactei a Ana Ramos, Parteira, e comecei a viagem interior para me preparar para um parto em casa. Afinal, o parto era meu e era um erro ficar condicionada à partida pelo receio das reacções alheias. Com toda a informação que eu já tinha, argumentos de peso era o que não me faltava.

Vim para Portugal acompanhada da minha mãe da minha filha, cerca de 1 mês antes da data prevista para o parto, o pai viria um mês depois, precisamente na data provável para o parto, dia 4 de Agosto, o que me deixava numa situação mais complicada, pois arriscávamo-nos a que ele nem sequer estivesse presente no parto, no caso do pequeno decidir adiantar-se.

Primeiro, e antes de tomar a decisão definitiva, era importante para mim conhecer aquelas pessoas com quem tinha estado em contacto durante os meses anteriores e realmente perceber até que ponto aquilo fazia sentido para mim e até que ponto as impressões que tinha criado à distância se confirmavam no contacto directo. Marquei um encontro com a Catarina e com a Ana no dia seguinte a chegar a Portugal. Se ainda me restava alguma dúvida nessa altura, ali ficou decidido que este bebé nasceria em casa.

À cautela, e visto que até àquele dia a decisão esteve pendente de muitas coisas, havia resolvido há algum tempo marcar uma consulta com uma obstetra com certa fama de “diferente”. Não deixei de ir a essa consulta, marcada há mais de 3 meses e aproveitei para fazer os últimos exames, e talvez os mais completos de toda a gravidez, pois há muito que havia desistido de ir às consultas em Angola, limitando-me a fazer os exames que considerei importantes e interpretá-los por minha conta e risco (trabalho na área da saúde). Gostei da postura dela... mas gostei menos do marketing que faz à volta dessa postura. De qualquer das maneiras, por muito diferenciada que fosse a sua atitude, para mim, já nada para além da porta da minha casa fazia sentido. E não voltei lá.

Agora era aguardar que o meu pequeno desse sinal e esperar sinceramente que a informação com que havia bombardeado o pai nos meses anteriores tivesse sido lida, compreendida e assimilada da melhor forma, pois só no dia da sua chegada a Portugal é que ele se veria perante a notícia “o nosso filho vai nascer em casa”. Confesso que isso me trazia bastante ansiosa, quase a desejar que o bebé decidisse nascer antes para não ter que enfrentar aquela conversa.

No entanto, daquela como de tantas outras vezes, o meu querido marido surpreendeu-me muito, muito, pelo lado positivo. Não só todos os meus sinais haviam sido captados, de modo a que ele já estivesse de certa forma à espera que aquela acabasse por ser a minha decisão, como se mostrou plenamente de acordo comigo, afirmando que eu tinha todo o direito a parir o meu filho da forma que eu achasse melhor para mim e para o bebé e que ele, qualquer que fosse a minha decisão, ficaria do meu lado. Por ele, teria preferido abrir o microondas e tirar de lá o bebé já “prontinho” sem ouvir um “ai” J, mas se a minha vontade era viver todo o processo plenamente, ele estaria ali e, no fundo, embora um pouco apreensivo, tão feliz como eu por poder viver cada segundo do nosso parto.

Daí em diante, foi relaxar de verdade e apenas esperar que o grande dia chegasse. Em casa, estava tudo a postos. A avó um pouco nervosa, a mana do meio ansiosa, o pai em suspenso e a mana mais velha (filha do meu marido, com 16 anos) de férias, mas de sobreaviso, porque também estaria presente no parto.

A semana 40 passou sem novidades. Todos os dias, a todo o instante, estava a espera que o meu corpo me desse algum sinal de que a hora tinha chegado. E a hora chegou, 5 dias depois da data prevista ao fim da tarde, depois de um dia como outros, em que me fartei de andar a ver se a coisa se anunciava. Tinha passado a tarde com o Tomás pai para cima e para baixo e assim que chegámos a casa senti que algo de novo estava para acontecer. Sentia-me irritável e apetecia-me ficar num canto, sem falar com ninguém. E assim fiquei, acho que nem boa tarde disse à mana Bia e à avó, deixei-me ficar no sofá da sala, apenas concentrada no meu corpo. Pouco depois, as primeiras contracções. Deixei-me ficar, podia ainda não ser desta, já tinha tido outras ameaças que depois pararam ao fim de algumas horas. Mas as horas foram passando e eu passei do sofá para um monte de almofadas que atirei para o chão e comecei a achar que as contracções, embora suportáveis, eram muito seguidas. Confirmei: de 3 em 3 minutos?!! Achei estranho, mas confiei no que o meu corpo me dizia... aquilo estava só e apenas a começar e ainda teria ali entretém para muito tempo. Não me enganei.

Por volta das 10 da noite, a avó e a mana deitaram-se e o Tomás veio ver se estava tudo bem. Disse-lhe que era melhor ir descansar porque pelo estado das coisas, ia precisar de estar bem disposto no dia seguinte. Não sei bem porquê, mas sempre senti que este meu parto também seria demorado, como o primeiro. E, embora sentisse as contracções tão próximas umas das outras sabia que a coisa não ia trazer grandes novidades antes da tarde seguinte, pelo menos.

Seriam entre as 12 e a 1 quando decidi avisar a Catarina e a Ana. Esta última sugeriu-me um duche, para ver se tudo se mantinha igual ou, eventualmente, abrandava. Foi o que fiz... e tudo se manteve igual. A essa altura, embora já fosse um pouco complicado falar e reagir a outras coisas durante as contracções, sentia-me lindamente. Ajeitei as almofadas no chão, diminuí a intensidade da luz e ali me deixei ficar a gozar cada contracção, enquanto confirmava à Doula e à Parteira que a hora estava a chegar e precisava de as ter comigo. Embora sentisse que aquilo ia demorar, começava a ficar um bocado ansiosa se seria realmente assim ou não. Também sabia que a segurança da presença delas ia ajudar o pai a manter a calma.

A Ana Ramos chegou por volta das 3, se bem me lembro e a Catarina, que ainda tinha ido buscar a Ana, minha enteada, uma ou duas horas mais tarde. O Tomás, que pouco ou nada conseguia dormir, juntou-se a nós na sala e fomos conversando entre contracção e contracção. A Catarina fez-me uma massagem fantástica com óleos essenciais de aromaterapia para estimular as contracções. Pouco depois, o Tomás decidiu-se por uma última tentativa de descansar um pouco, a minha enteada tinha subido para o quarto dela e também dormia e eu, a Catarina e a Ana ficámos por ali, também a tentar dormir um bocado. Ao amanhecer, ainda consegui descansar um pouco entre as contracções e cheguei mesmo a dormir. Tinha deixado de contar os intervalos, pois, se tinha algumas com intervalos de 1 minuto, tinha outras de 5 em 5 minutos... ou seja, se fosse a julgar por aí, só me ia baralhar. A minha mãe e o Tomás prepararm um pequeno almoço delicioso e comemos todos alegremente. Nessa altura, senti que a coisa ia abrandar, as contracções estavam a perder intensidade e pelo que percebi, apesar de não saber exactamente “como estava”, estava muito no início... tanto que a Ana sugeriu um passeio à praia a ver se retomávamos o ritmo e aquilo avançava.

Nunca esquecerei essa manhã. Era uma 2ª feira, mês de férias e a praia da Figueirinha estava linda... e com bastante gente. Assim que comecei a caminhar na areia molhada e a sentir a frescura da água do mar nos pés, fui invadida por uma energia totalmente nova, sentia-me cheia de força, e caminhei, caminhei, caminhei pela beira mar, durante imenso tempo e com imensa genica, com as pilhas novinhas em folha! Quando as contracções vinham, começava a “marchar”, enterrando os pés na areia o mais que podia e andava à roda, de mão dada com o Tomás... não sei porquê, mas aquela espécie de ritual, ao estilo “dança da chuva” acalmava-me, ao mesmo tempo
que me renovava o ânimo. As pessoas na praia deviam estar um bocado intrigadas com aquilo, mas a verdade é eu estava noutro mundo. Se no caminho para a praia fiquei um bocado apreensiva por quase não ter tido contracções, no regresso pedi à Ana e à Catarina, que iam no banco de trás do nosso carro para me apertarem as mãos com bastante força para me distrair da dor porque a coisa finalmente parecia estar a engrenar com força.

A partir daqui, apesar de ainda terem sido muitas horas, parece-me tudo muito rápido e resumido a alguns flashes cuja sequência a certo ponto me custa organizar e consegui fazê-lo mais pelas fotos que pela memória...

Sei que chegámos a casa pela hora do almoço e eu já tinha muita vontade de ir para a piscina, foi só o tempo de a encher e meti-me lá dentro. Enquanto enchiam a piscina, estive literalmente “pendurada” na escada de caracol a meio da sala, enquanto a Catarina me massajava as costas.
Só por essa altura é que comecei a perder o rolhão. Finalmente, a piscina ficou pronta e pude entrar! Que alívio!! A Bia ainda esteve por ali um bocadinho, deu-me a mão, fez-me mimos, pôs-me água nas costas, mas depois a minha mãe levou-a, primeiro para dar uma volta e depois para casa da Avó Li, a quem eu baptizei carinhosamente de “a Doula da avó”. Nessa altura lembro-me de pensar, emocionada, no privilégio que tinha por poder viver aqueles momentos tão tranquilamente, na companhia da minha família, com total respeito pelo meu tempo e pelo meu espaço...

Estive algumas horas dentro de água. Durante as contracções, a Catarina ou o Tomás massajavam-me as costas ou apertavam-me as ancas com força... aliviava-me tanto! Outras vezes, pedia para me apertarem aquela zona entre o polegar e o indicador com toda a força... era impressionante o quanto aquela pressão me trazia de volta a serenidade durante e após as contracções... só agora, quase um mês depois, é que deixei de ter essa zona dorida!

Algum tempo depois, e apesar de eu não ter vontade nenhuma de sair da água, a Ana sugeriu-me que experimentasse caminhar um bocadinho e aproveitar a força da gravidade. Reconheci que seria melhor e vim para o quintal. Não me quis vestir, e apresentei-me na rua de top interior e toalhão turco amarrado nas ancas... felizmente os vizinhos são poucos ;). Dei várias voltas à casa com o Tomás, que entretanto me ia fazendo massagens e apertanto as ancas durante as contracções, enquanto eu me ia apoiando nele, nas paredes e rodando as ancas, à medida que sentia como me abria cada vez mais. Estive também um pouco na bola, pendurando-me na cama de rede... A certa altura senti-me extremamente cansada e tive vontade de entrar na piscina
novamente. Assim fiz. Nessa altura o sol começava a descer e as coisas começaram realmente a aquecer. As contracções eram muito fortes, sentia uma pressão imensa na bexiga e na zona lombar, tinha a sensação de que me ia partir em dois e comecei a achar que não ia aguentar aquilo muito tempo. Animei-me com esse pensamento, já que, segundo se costuma dizer, quando chega este momento, é porque está quase e já falta pouco para ter o pequenino nos braços. E fui, contracção após contracção, esperando alguma sensação que me sugerisse que o Tomasinho estava finalmente pronto. Por essa fase, a meio de uma contracção, senti que a bolsa se rompia com alguma violência, como se fosse um balão sujeito a uma pressão imensa... mas continuava sem reflexo de puxo e as contracções eram todas iguais, fortíssimas, uma pressão enorme na bacia... e nada de vontade de fazer força. Ao fim de algum tempo naquilo, comecei a entrar em pânico. Só pensava que tinha que continuar a respirar para não perder o controle mas a respiração (sei pelas gravações) saía-me como um grito/rugido que me parece incrível que tenha saído da minha boca! Estava exausta e começava a pensar que, se aquilo não avançava, era porque se calhar ainda não estava na hora. Pensar que ainda poderia estar a muitas horas de que o bebé nascesse trouxe-me alguma aflição e comecei a entrar naquele tão temido ciclo medo-tensão-dor. Não sei quanto tempo passei assim, mas a certa altura pensei que era “o fim da linha”, de tal forma estava desnorteada. Acho que a certa altura perguntei em voz alta se não podíamos parar e continuar mais tarde J. Mesmo sem vontade nem grande convicção, cheguei a fazer força durante as contracções, mas a dor tornava-se insuportável e cheguei à conclusão que era melhor esperar. Nesses momentos, que não sei bem quantas horas duraram, valeram-me a voz suave da Catarina para me serenar, encorajando-me a abrir o meu corpo e deixar o meu filho nascer, o apoio incondicional do Tomás que ia repetindo baixinho “tu consegues, meu amor, claro que consegues...” e, mais à frente, a ideia brilhante da Ana para me fazer voltar ao caminho. Ela já tinha feito a leitura de que a água não estava a ajudar muito naquele momento e que era preciso uma mudança para nos ajudar a ultrapassar aquele impasse. Já tinha tentado sugerir de algumas formas que talvez fosse boa ideia experimentar sair um bocadinho da água... mas eu nem queria ouvir falar nisso e não lhe fazia caso. Então, ela encontrou as palavras mágicas: “Linda, estás tão cansada... porque é que não experimentas ir te deitar um bocadinho e depois voltas?” Que óptima ideia – pensei eu – estou mesmo a precisar de descansar um bocado ;)! Saí da água e deitei-me na cama, às escuras. O Tomás deitou-se comigo. Acho que não tinha passado nem um minuto de nos deitarmos quando senti o que era evidente há horas: “Bolas, é agora, está na hora, o Tomasinho quer sair”. Pedi-lhe que as chamasse e pedi à Ana o banco de partos. Ela trouxe-o em seguida e, em menos de nada, estava a fazer força. Senti como a cabeça do meu bebé, que há tanto tempo pressionava a mesma zona, descia agora a bom ritmo, deixando a dor dar lugar a uma sensação única de poder animal, de ter o mundo todo cá dentro a querer sair, uma vontade louca de explodir, de dar à luz...

A Ana colocou o espelho à minha frente e, depois de uns quantos empurrões, comecei a ver a cabecinha do bebé a aparecer lá no fundo. Foi nessa altura que o Tomás, até aí atrás de mim, foi discretamente substituído pela Catarina pois precisou de ir “arejar” um pouco. Com mais um empurrão, vi a vulva a distender-se, mas não me sentia cónfortável, tinha as pernas dormentes, não as conseguia abrir bem nem apoiar os pés e tinha vontade de me pôr noutra posição. Decidi ficar de gatas... no chão! E, por momentos, gerou-se um silencioso caos atrás de mim, já que a Ana não conseguia ver nada assim nem tinha espaço para colocar almofadas ou resguardos onde o bebé pudesse nascer confortavelmente. Depois de um breve impasse, a Catarina lá conseguiu convencer-me a passar para a cama. Aí, com mais três empurrões, nasceu o meu menino. Primeiro a cabecinha, que toquei e acariciei, incrédula com o que me estava a acontecer... e de seguida o resto do corpinho, num “pop” molhado. O Tomás, já recuperado, estava agora à minha frente, super emocionado.
A Parteira amparou o bebé e passou-o entre as minhas pernas, para que lhe pegasse. Foi indescritível a sensação de segurar aquele corpinho quente e escorregadio. Estava branquinho, de olhos fechados... e era tão lindo! Começou logo a gorgolejar, mas só fez alguma coisa que se parecesse a chorar ao fim de uns minutos. Pouco depois, abriu os olhinhos, pegou no peito e assim ficámos, a namorar, deitados na cama, não sei se por minutos ou horas. O pai anunciava o nascimento à mana grande, que entretanto tinha ido “arejar” também. Ela veio conhecer o mano e esperámos que o cordão parasse de pulsar para que ela o cortasse. Pouco depois a placenta nasceu, com duas contracções em que me lembro de gracejar “São gémeos!” A mana do meio e as avós chegaram entretanto e juntaram-se a nós. A pequena não cabia nela, tal era a excitação por, finalmente, conhecer o “cara de umbigo” J! Depois, foi hora de “reparar os estragos”, que os havia (4 pontinhos no períneo e alguns também por dentro), tomar uma banhoca, comer e descansar. Eu, embora a cabecear de cansaço, estava totalmente em êxtase... tinha PARIDO o meu filho... imaginei tantas vezes aquele momento que não podia (ainda hoje não posso) parar de o reviver.

Claro que isto é tudo menos uma peça de teatro que se ensaia para sair direitinho como no guião. Muita coisa aconteceu de maneira diferente ao que eu tinha imaginado, sem por isso deixar de ser único e maravilhoso, foi o MEU parto, aquele que eu tinha que viver, aquele com que sonhei durante tanto tempo. E foi tão bom que pudesse ser entre pessoas tão queridas, num ambiente tão calmo! Estavam todos ali... o pai, as manas, as avós e duas mulheres fantásticas, incansáveis na missão de lembrar a todo o momento esta família de que este era o nosso parto...

Ainda me perguntei durante alguns dias porque razão o momento do parto em si demorou tanto a manifestar-se no meu corpo, independentemente de estar ou não na piscina, independentemente da força da gravidade ou do cansaço... e lembrei-me de um filme que vi sobre partos na água em que uma parteira dizia que, para ela, o momento mais extraordinário de qualquer parto era aquele em que a mulher, de repente, se dava conta de que ninguém poderia fazer aquilo no lugar dela e, naquele preciso momento, se entregava totalmente. E reconheci que foi essencial ter tido aquelas horas de conflito com o meu corpo para aprender a confiar nele. Este parto foi, para mim, uma lição de humildade e um momento de grande crescimento pessoal.

Muito obrigada a todos; em primeiro lugar à minha queridíssima Doula Catarina Pardal, que por muito que diga e repita que não teve nada a ver com o parto em si, foi ela que, a mais de 6 mil km de distância e se calhar sem saber até que ponto o trabalho dela foi importante no meu caminho, me encorajou a procurar o meu próprio poder, a minha feminilidade mais profunda. Nunca saberei como lhe agradecer. As palavras são poucas para descrever o que a sua extraordinária postura discreta e amiga foram capazes de fazer na minha vida. Mil vezes obrigada por tudo, minha querida!

À minha Parteira, Ana Ramos, que esteve sempre lá, com a palavra certa no momento certo, aliando como ninguém a segurança e o carinho, muito mulher, muito mãe, muito amiga!

Ao meu marido que pariu este filho comigo e certamente lhe custou mais a ele que a mim! Obrigada, meu amor, pela confiança que depositaste em mim e por partilhares comigo a beleza e a intensidade deste momento... fomos capazes!!

À minha filhota Bia por me ter posto a pensar no sentido do nascimento. Pela mãozinha amiga e pela água morna... ;)

À minha enteada, uma jovem e linda mulher que espero que cresça sem medo, com consciência e orgulho pelo facto de o seu corpo estar “maravilhosamente desenhado para fazer nascer uma criança”.

À minha mãe por, apesar da sua relutância, ter aceite a minha opção e se ter empenhado em ajudar-me a tornar este sonho realidade e à querida Mãe/Avó Li por ter sido a “Doula da Avó” e pelo carinho de tantos anos... à mana Vera também, apesar da distância não ter permitido que estivesse presente.

MUITO OBRIGADA!

Claro que há sempre reflexões a posteriori, que nem sempre, ou melhor, quase nunca aparecem nestes relatos e que acho, já que o tema está tão na moda e cada dia se fala mais de humanização, da necessidade de devolver às mães (e aos pais, evidentemente) os momentos mais importantes das suas vidas, que vale a pena falar nelas.

Como mãe, como mulher, considero o parto um marco muito importante no caminho do crescimento interior de uma mulher. O parto em casa é uma opção, uma opção que não se pode considerar “como qualquer outra” porque, principalmente em Portugal, ainda implica que estejamos totalmente preparados para assumir a responsabilidade total por cada momento, cada decisão que tomamos ou deixamos de tomar. Um dia, uma pessoa muito querida disse-me uma coisa que na altura não percebi muito bem: que a maioria das mulheres que escolhiam um parto em casa o faziam apenas para fugir das rotinas hospitalares. Agora entendi o que queria dizer. Temos todo o direito de fazer escolhas, as escolhas são nossas e seja o que for que nos leva a fazê-las, é connosco. Mas um parto em casa, qualquer que seja a razão que nos levou a escolhê-lo, é um parto onde, apesar de assistidos, temos que estar conscientes que a responsabilidade é toda NOSSA. Se não nos sentirmos confortáveis com a decisão, se a maneira como a encaramos é do estilo “dos males o menor”, aconselho vivamente a repensar, pois se alguma coisa corre menos bem, a tendência é culpar quem nos assiste, quando no fundo o nosso medo e as nossas inseguranças estão muitas vezes na raíz dos percalços durante o trabalho de parto.

Pelo que me diz respeito, tive a sorte de ter tempo suficiente para “sonhar” o meu parto e para tomar aos poucos a consciência total do que significava dar à luz por minha conta e risco... e também de ter comigo uma dupla verdadeiramente incrível de grandes MULHERES que conhecem bem os recantos da essência feminina que nos é comum e sabem como ninguém dar o espaço necessário para que cada mulher renasça e se reinvente no seu parto; mas se o assunto está tão na berlinda e as mulheres começam cada vez mais a pesar esta opção, não se esqueçam de pensar nisto. Não se trata apenas de fazer uma opção, mas sim de assumir uma atitude.

Por outro lado, quando depositamos tanta energia na vivência de uma experiência de parto, muitas vezes esquecemos o que está “para lá” do parto. Ao viver um parto empoderador, a mulher sente-se dona do mundo e acha que tudo vai ser perfeito. Mas não é. O bebé, como todos os bebés, chora, tem gases, acorda de noite e deixa-nos “em frangalhos” durante as primeiras semanas. Portanto, não esqueçamos o que vem depois e que, apesar de termos vivido o nosso parto e, em geral, um bebé nascido assim se mostrar mais tranquilo nos primeiros dias e a mãe mais disposta e moralizada... os primeiros tempos não são fáceis. Como diz aquela piada da senhora que acabou de parir e pergunta ao médico: “Dr., o pior já passou, não é?! Ao que ele responde: “Não, minha querida, esta foi a parte fácil, o pior acaba de começar!” Claro que é um exagero... não é fácil, há que fazer uns exercícios de “bom senso e estupidez natural”, como diz a minha amiga Raquel ;), mas no final é como uma dança em que vamos apanhando o ritmo e acertando o passo com a nossa dupla. Se relaxarmos e seguirmos o nosso instinto, acaba por funcionar. Isto só para lembrar que depois do parto ainda vem o “quarto trimestre”, que é tão ou mais importante para uma vivência plena do que é SER MÃE!

C.

A historia do parto do Miguel


Lembram-se do Miguel ?


Já esta tão grande!!!

A mãe respondeu ao meu desafio e escreveu sobre o seu parto. Eu tenho muito pouco a acrescentar, foi um parto maravilhoso como a mãe o descreve, assistir á transformação de um casal, ao seu "empoderamento", deixarem de ser simples filhos e passarem a pais é ... mágico.
Pensam que somos nós, doulas e parteiras que "fazemos" estes partos lindíssimos, mas não, quem faz o parto é a mãe e o bebé, sempre! Temos de perceber que é preciso muito pouco para uma mulher parir, mas é fundamental deixa-la em liberdade! O PARTO É DELAS! A mãe é a actriz principal de um dos momentos mais fantásticos, lindos, maravilhosos,....., da sua vida! A nos doulas compete-nos apenas zelar para que o cenário esteja tal e qual como a mãe deseja, para que ela possa brilhar, com a segurança dada pela parteira. Uma mulher que consegue ter o privilegio de parir como deseja é uma MULHER mais forte e realizada!


O Parto do Miguel - pela mãe

Toda a minha vida recusei ouvir até ao fim as histórias de partos que se revelavam arrepiantes e sempre pensei que, apesar de querer muito ter filhos um dia, talvez não conseguisse sobreviver à parte dos ferros, das ventosas, da epidural (uma agulha na espinha, arrghhh!), das enfermeiras brutas, enfim… Lá no fundo, como amante da natureza que sou (e das coisas naturais), sonhava que o meu parto havia de ser muito meu, qual Juma da novela ‘Pantanal’ a parir à beira do Amazonas e, mais tarde, depois de ouvir dizer que na França se paria na água, imaginava-me a ter o meu bebé dentro de uma enorme piscina de natação – ‘com sorte, quando chegar a minha vez, já se faz disto em Portugal também’ – pensava eu de mim para mim…

Quando o Miguel chegou em forma de feijãozinho, ainda não sabia muito bem como resolver a questão do nascimento. Mais do que querer um parto de sonho, sabia que não queria um parto das histórias de arrepiar. O cenário mudou quando, numas férias de fim-de-semana grande (que coincidiu com o dia da Mãe) comprei uma Pais&Filhos, onde se falava da semana mundial do parto respeitado, da humanização do parto e de doulas. Nunca tinha ouvido falar de doulas, mas a minha intuição dizia-me que uma doula seria, sem dúvida, a ligação a uma realidade que, até então, desconhecia.

Encontrei a Catarina no site das Doulas de Portugal. Depois de um encontro do qual resultou uma longa conversa, o João e eu gostámos tanto dela que nos decidimos por ela, se aceitasse acompanhar a nossa gravidez. Daí até ao parto que sonhámos juntos, foi apenas uma questão de tempo, com o nascimento em casa a ser a opção mais óbvia, depois de dissipadas todas as dúvidas.

E as luas foram passando e a barriga crescendo, ao longo de 40 semanas. E no final de Outubro, na mudança para o quarto minguante, senti um ligeiro cansaço e um aperto na barriga e soube que o momento tão ansiado estava a chegar… Eram 6h da tarde do dia 20. Antes de nos deitarmos, revi com o João tudo o que haveríamos de precisar. A piscina cuidadosamente colocada no quarto do Miguel, as velas e o candeeiro de luz suave, os ouriços das castanhas que combinámos plantar quando o bebé nascesse e a música, já lá estavam há alguns dias, aguardando, como nós. O plano de parto também já tinha sido entregue. Ligámos à Catarina e fomos dormir, mas não por muito tempo. Às 2h da manhã as contracções tinham aumentado e já não conseguia estar deitada… Passámos o resto da noite no sofá a dormitar e a Catarina chegou, por volta das 9h, já tendo avisado também a Ana Ramos, a nossa parteira.
Estava um lindo dia de sol e decidimos dar um passeio pela praia… Caminhámos os quatro durante 3 horas, pelo areal da praia de Carcavelos, as contracções aumentando de intensidade. Lembro-me de ter dito ao João que, por mais que vivesse, nunca esqueceria aquele dia. Mas aquele dia ainda estava longe de acabar…

Enquanto o Miguel percorria o seu caminho na direcção deste mundo, com cada vez mais força, nós almoçámos calmamente, conversámos e bebemos o chá de chocolate da Naoli. A Catarina ía massajando as minhas costas, onde as contracções se faziam sentir, e eu mudava de posição constantemente, caminhando pela casa.

Foi no final da tarde que tive vontade de entrar na piscina. Lembro-me de ter passado bastante tempo de joelhos e de cócoras, agarrada ao bordo da piscina. As contracções eram agora muito fortes e, para aliviar a intensidade da dor, a Catarina e o João iam fazendo escorrer água morna pelas minhas costas.
O dia de sol deu lugar a uma noite de chuva, como se fosse um sinal de que a chegada do Miguel estava próxima. A certa altura, precisámos de um momento a sós, a mamã, o papá e o bebé… O João juntou-se a nós na piscina e ali ficámos agarradinhos, a apreciar aquele momento, ao som da banda sonora do filme da Amélie Poulin. Mas não sem antes o vizinho do lado nos bater à porta. E lá foi o João a pensar no que lhe iria dizer, quando afinal era só para avisar que estava a chover no nosso carro, porque tínhamos deixado o vidro aberto. Também me lembro de dar por mim a rir, a rir à gargalhada, nem sei bem porquê!

Um pouco mais tarde, cheguei a sentir que ‘já não aguentava mais’. Sabia, pela Ana e pela Catarina que, quando chegasse a este ponto o bebé estaria prestes a sair. Mas fiquei sempre na dúvida sobre o que seria ‘não aguentar mais’. E se achasse que era naquele momento mas, afinal, ainda aguentasse mais um bocadinho? Fiquei à espera que as contracções aumentassem mais, mas senti que o trabalho de parto estava a regredir… Decidi que era melhor sair da piscina e começar tudo de novo. Deste momento em diante, é tudo muito vago na minha memória. Desliguei-me de tudo e perdi a noção do tempo. Voltei mais tarde para a piscina, onde ainda tive apetite para uma tostinha de queijo, antes dos momentos finais.
Passei aquilo que me pareceu bastante tempo, recostada de barriga para cima, a recuperar a energia. Eu sabia que esta não era a melhor posição para ter o bebé, mas precisava de recuperar a força para a fase expulsiva do parto. Adormecia profundamente entre uma contracção e outra (agora tão fortes como nunca), sem ter a noção de quanto tempo passava nesse intervalo. A Ana e a Catarina também chegaram a adormecer, cada uma a segurar-me uma mão. Nessa altura, o João sentiu que já não podia ajudar mais e saíu de cena por um bocadinho. Pouco antes do fim, dei por mim a lutar contra as contracções, em vez de me deixar levar por elas. Foi a doce voz da Catarina a pairar no ar, a dizer-me para abrir o meu corpo para o Miguel, que me deu um novo alento. Lembro-me de ter dito ‘Vou pôr-me de pé!’ E assim o fiz. Agarrei-me ao bordo da piscina de pernas flectidas, e as águas rebentaram logo de seguida (‘Ah, a bolsa, só agora rebentou… Já nem me lembrava da bolsa, julguei que fosse o bebé’, pensei eu). A Ana pediu-me para ouvir o coração do bebé mais uma vez, mas eu não quis. A seguir, a cabeça apareceu e logo senti o anel de fogo, como se eu fosse um vulcão prestes a libertar a sua preciosa lava. Depois, uma súbita vontade de fazer força (‘Agora é entre mim e ele’, foi o que eu disse, segundo a Catarina). E então rugi, rugi como uma leoa, ecoando pela madrugada…

Eram 3h38 do dia 22 de Outubro, e o Miguel veio finalmente ao mundo, num lindo mergulho para dentro de água! O João chorava de alegria… Eu sentia-me aliviada, por um lado, por poder finalmente descansar e, ao mesmo tempo, eufórica e sem vontade nenhuma de o fazer. O papá cortou o cordão umbilical, depois deste parar de pulsar, enquanto eu segurava o nosso pequerrucho no colo, contra o corpo, amamentando. Para além do Miguel, nasciam também um papá e uma mamã orgulhosos da viagem que acabavam de iniciar!

Nesse dia fui mulher, mãe, deusa e rainha, como nunca havia sido… E tudo graças a duas grandes mulheres, a Catarina e a Ana, e a um namorado maravilhoso, que tudo fizeram para que me sentisse assim!...







Uma foto mais recente do pirata Miguel

Nasceu a Violeta...

......e também uma Mãe... um Pai... uma Família..... é um privilegio estar presente num momento tão sagrado... tão especial.... Estou grata á Violeta... por tudo... pelos momentos dentro e fora da barriga :) Sofia e Marco.... sabem que podem contar sempre comigo :) fico feliz por terem acreditado no meu trabalho mas especialmente por terem acreditado em vocês... acreditaram que eram capazes.... O corpo de uma mulher foi MESMO desenhado para parir....



Um Parto onde não foram feitos toques desnecessários... onde a mãe o pai e a bebé foram totalmente respeitados... onde ninguém disse para fazer nem como fazer força.... onde o bebé não foi "arrancado" da mãe... Sonho que um dia todos os bebés possam nascer assim... sei que um dia as mulheres vão voltar a acreditar na sua capacidade inata para parir os seus filhos... e perceber que quem faz um parto.. é a mãe e o bebé... ( obrigado Ana!)

Relato de Parto

Uma carta muito especial que a S. escreveu para a sua linda Violeta.

Lisboa, 15 de Setembro de 2010



Meu amor,
No dia em que te revelaste a minha vida mudou, ganhou uma luz e uma cor infinitas.


Depois de tantos anos de espera, afinal vieste na hora certa, quando nós menos esperávamos anunciaste a tua vinda de uma forma surpreendente, numa consulta de infertilidade a que eu fui sozinha, um pouco às escondidas do pai! É que ele estava mais seguro de que tu virias!


Fiquei toda orgulhosa da minha barriga assim que soube que já estavas connosco, às 12 semanas de gestação. Foi esse um dos momentos mais inexplicáveis da minha vida, cheio de uma alegria incomensurável.


Após 40 semanas e cinco dias, a saída do rolhão mucoso, que ocorreu por volta das 3h30 da manhã de 5ª feira, anunciou o início do trabalho de parto, o que me deixou contente e entusiasmada... a viagem final havia começado! Voltei a deitar-me tentando esperar serenamente por mais alguns sinais que confirmassem o início da tão esperada viagem e acho que consegui descansar, mas ao longo de um sono intermitente. De manhã avisei o pai de que estávamos próximos de te ver cá fora. As contracções começaram de forma bastante irregular, muito alternadas, com intervalos muito dispares... apelaste desde o início a algo que nunca tive em demasia... calma, muita calma e entrega cega à sabedoria do meu corpo e do amor.


Nesse dia o pai ficou em casa e juntos esperámos que os sinais se fossem revelando para que pudéssemos perceber em que fase estávamos e afinal quantas horas demorariam até te termos nos nossos braços. Ao início fizemos um registo das contracções, mas depois desistimos, o corpo saberia o que fazer.


As contracções foram vindo e intensificaram-se ao longo de um período que acabou por se tornar mais longo do que esperávamos, mas a partilha intensa de cada segundo permitiu que o tempo passasse sem nunca perdermos o ânimo.


Procurei todas as posições, usei a banheira para descontrair enquanto a água morna me escorria pelas costas, pus-me de gatas, sentei-me, deitei-me, mas só o constante movimento parecia ajudar, por isso mantive-me em movimento o mais possível.


Na 6ªfeira à noite o cansaço começou a mostrar-se, mas nunca desanimá-mos e de madrugada vieram as contracções fortes e ritmadas que me fizeram ir buscar forças ao amor imenso que oxigenava o ar. O enfermeiro-parteiro chegou por volta das 5h da manhã e fez-me um primeiro toque. Notei que alguma coisa parecia estranha, mas continuei a fazer o que a natureza me mandava sem duvidar que nos iríamos encontrar daí a algum tempo, fosse ele qual fosse. Comecei a sentir uma enorme vontade de fazer força, mas as forças já estavam a escassear, foi quando o António confirmou num segundo toque que aquilo que sentira anteriormente não era efectivamente a tua cabeça, mas sim uma nádega. Depois de tantos meses em posição cefálica tinhas decidido sentar-te.


Foi o momento de adoptarmos o plano B, seguirmos para a maternidade. Tinha apenas um t-shirt vestida, pus um robe por cima e dirigi-me ao carro.


5 minutos depois, cerca das 9h40 entrámos na porta das urgências da MAC, apenas alguns minutos depois separámo-nos do pai e do sonho que tínhamos tido de ver-te nascer em casa. Levaram-me para o bloco operatório e às 10h12, após uma cesariana, tu nasceste. Tão inesperadamente como te tinhas anunciado nas nossas vidas.


Do que mais tenho pena é de não ter sentido a tua pele nua e macia a tocar a minha, de eu e do pai não termos sido os primeiros a sentir o teu calor, os primeiros a sentir o teu cheiro... durante aqueles minutos é como se te tivéssemos perdido num vazio. Questionei-me sobre a justiça do Universo, depois de tantas horas juntos, os três a vibrar em conjunto, foi-nos tirado esse momento, foi como se houvesse um lapso na nossa história. Estive adormecida no momento em que nos separámos pela primeira vez depois de uma caminhada de 9 meses vivida com tanta intensidade. Gostava de ter-te proporcionado um momento mágico, mas acredito que tenhas escolhido nascer assim, que tenha sido uma conspiração favorável à nossa evolução, afinal de contas, o Plano é perfeito, embora muitas vezes não o pareça aos nossos olhos.


Estava ainda atordoada quando te vi, queria chorar de alegria mas não consegui, senti que nos tinham roubado aquele momento, foi tão estranho, tão confuso, mas só temos o poder de decisão no Agora, por isso preferi seguir em frente e ficar a olhar para ti a beber da serenidade que emanavas, imperturbável, qual anjo capaz de transformar o pior dos momentos. Apaixonei-me assim que te vi, deixei-me perder na tua luz e é assim até hoje, esta linda Violeta que nos escolheu a nós para a acompanhar na sua caminhada e é tão boa esta sensação de que, afinal, apesar de não ter acontecido como planeámos, passámos por tudo juntos, alimentados por um amor que apenas tem mudado para se tornar cada vez mais forte.


Fiquei contente de saber o teu peso... sempre tive medo de pegar em bebés demasiado leves... 3.825 kg, “boa! é boa de pegar”, pensei... o nosso tesouro! E foste sempre a maior da enfermaria, havia quem pensasse que eras um rapaz, a nossa doce Violeta!


“Se soubesse o que sei hoje” não mudaria nada, cada segundo, nada, porque estás aqui connosco e todo este processo foi fundamental aos 3.


Se a forma perfeita de nascer é rodeada de amor profundo, então tiveste o nascimento perfeito, meu amor.


Obrigada por nos teres escolhido.
 
S.

E foi assim que nasceu a Eva....

Mais um lindíssimo relato de um parto.
Foi um privilégio poder estar presente no nascimento da Eva.
Grata!

Escrevi este texto para mim (finalmente!) e por isso está longo e pormenorizado. Mas não podia deixar de ser assim pois é a memória bonita do nascimento da Eva e que espero poder contar-lhe um dia quando for crescida!



Resolvi partilhar porque ao longo dos últimos tempos também gostei de ler outras histórias como esta. E talvez algum dia tenham tempo, paciência e gosto para a ler... :)


Para as mulheres que sempre fizeram parte da minha vida e para algumas daquelas que só entraram recentemente; para a parteira e para as doulas que conheci nos últimos tempos (todas elas mulheres especiais!); para as amigas do coração, para aquelas que querem muito ser mães e também para aquelas que não querem mesmo ter filhos (pode ser que um dia mudem de ideias); para as que não perceberam porque quis ter um parto natural em casa e também para as que ficaram curiosas...


E finalmente para o homem especial que me acompanhou ao longo de toda a viagem!


Um muito obrigada pelos momentos que partilham comigo :)
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Eram 7h30 da manhã, depois de uma noite muito mal dormida com calor e sem posição. Acordei com contrações regulares de 5 em 5 minutos, daquelas ainda muito fraquinhas, um leve pulsar do útero. Mas já eram muito diferentes das contracções de Braxton Hicks que tinha regularmente desde as 22 semanas de gestação. Estávamos nas 40 semanas e era o primeiro sinal. Fiquei contente e com um ligeiro nervosismo.


O namorado ia sair para trabalhar e disse-lhe que o parto possivelmente aconteceria nos dias seguintes. Tomei o pequeno-almoço nas calmas e duas horas depois já não sentia nada. Fiz uma sesta pequena de manhã e outra depois de almoço.


Ao fim da tarde as contrações voltaram, agora 'mais a sério' e de 10 em 10 minutos. Estava um dia muito, muito quente e por volta das 19h/20h ainda fomos dar um mergulho na piscina dos sogros, pertinho da nossa casa. Tentei relaxar tal como fizera nas aulas de pré-parto aquático nos últimos meses e comecei a despedir-me da barriga! Jantámos e ainda fomos ver o 'Orgasmic Birth' pela primeira vez pois só tinhamos conseguido ter acesso ao documentário uns dias antes. E telefonei à doula e à parteira assim só de pré-aviso!


Já era meia noite, as contrações continuavam super regulares e cada vez mais intensas. Começava a sentir o cansaço do final de dia e não sabia muito bem o que fazer. Tentei descansar e deitar-me mas as dores e a posição eram insuportáveis. Tentei caminhar mas não me aguentava de pé. Experimentei diversas posições na bola mas também não me sentia minimamente confortável e, para além das contrações, comecei a ter uma forte dor por cima do osso púbico que nem me sentar deixava. Estava a ficar apreensiva até que me lembrei da cadeira de baloiço e... iupi!! Tinha encontrado uma posição muito agradável - sentada, muito inclinada para trás, mas sem baloiçar!


Levei a cadeira para o quarto e assim, ao longo da noite, o namorado ressonava na cama e eu dormitava na cadeira ao lado! A cada 10 minutos acordava com a contracção, respirava fundo e logo depois caía novamente num descanso profundo! Por estranho que possa parecer a noite passou num instantinho, e deu mesmo para descansar muito e bem! Sei que não dormi realmente, nem sonhei, nem me lembro de pensar em absolutamente nada, mas sei que a mente viajou por qualquer sitio muito, muito longe! :)


Às 4h da manhã tive de me levantar para ir vomitar e até ao início da manhã seguinte isso aconteceu mais umas 4 ou 5 vezes. Não eram vómitos de agonia, dava tempo de chegar até à casa de banho. (E nem foi nenhuma surpresa, já estava à espera que acontecesse, tal como tinha acontecido dois anos antes num aborto espontâneo por que tinha passado). Era o meu corpo a reagir e a descomprimir. Depois de vomitar o corpo ficava muito mais relaxado.


Eram 8h da manhã saltei da cadeira para um agradável banho de imersão na banheira de casa onde continuava a só me sentir bem na mesma posição sentada e inclinada para trás! Nessa manhã o namorado já não foi trabalhar e começámos a contar as contrações que estavam agora muito irregulares. Tanto vinham de 3 em 3 como de 7 em 7 minutos. Tanto duravam 30 como 50 segundo. Sentia-me perfeitamente bem, relaxada, descontraída mas comecei a ficar um pouco apreensiva pois não estava a perceber se alguma coisa estava a avançar ou não e se ía acontecer em breve ou não! Telefonei à parteira, expliquei as minhas dúvidas e acrescentei que não estava a fazer nada daquilo que tanto tinha lido em livros e praticado em aulas de yoga como exercícios na bola, caminhadas, visualizações, etc, etc! A parteira respondeu "Não tens de te preocupar com isso, cada mulher tem o seu registo!".


Pois é... tinha acabado de me relembrar a "lição" mais importante de todas!!! Todas as mulheres sabem parir!!! Tinha de confiar e seguir o meu corpo que me estava a guiar nesta aventura!! A verdade é que passei todo o trabalho de parto e parto: parada, sentada, em silêncio, de olhos fechados e sem pensar em nada!! Ou seja, não fiz absolutamente nada daquilo que imaginei que me iria apetecer fazer... mas sentia-me tão bem assim e o tempo estava a passar tão rápido que nem queria acreditar!!


Às 10h e pouco chegou a parteira e sugeriu que eu saísse do banho e fosse para o quarto para me observar e ver como é que as coisas estavam à andar:


— Está tudo bem encaminhado... óptima posição da bébé... batimento cardíaco excelente... – e ainda acrescentou – está cá fora à hora de almoço!


— SÉRIO????????????? – Eu nem queria acreditar no que estava a ouvir! Que falta de noção a minha! E eu a julgar que a bébé só nascia lá para o fim do dia ou no dia seguinte!! É que até ali o tempo tinha passado mesmo muito rápido e estava a ser tudo muito mais fácil do que eu tinha imaginado!


E momentos depois, ainda deitada na cama... SPLASHHH!!! Aí foram as águas para cima da cama, do chão e da parteira! Ups...! Que sensação estranha de "incontinência" repentina e abundante! A dor/pressão que tinha na zona púbica, e que me obrigava a estar sentada e inclinada para trás, simplesmente desapareceu! Logo depois fui tomar um duche enquanto a parteira e o namorado preparavam a piscina de parto. E entretanto chegou a doula.


Logo depois, talvez por volta das 11h, entrei na piscina e foi muito bom poder estar novamente semi-submersa na água, super-relaxante! Estive mais uma hora nesta fase final da dilatação, de um lado agarrava a mão ao namorado e do outro a doula! Felizmente, apesar de supostamente serem as contrações mais fortes e finais antes da fase da expulsão, não eram tão intensas quanto imaginei, entre elas conseguia relaxar e continuava a minha minha viagem mental, que no meio de tão grande cocktail de hormonas já era muito para lá doutra galáxia!!! As contrações chamavam-me ao planeta terra, e sempre de olhos fechados e em silêncio lá respirava fundo e apertava as mãos do namorado e doula com muita força! Entretanto até comecei a ficar com as mãos dormentes e tive de ir alternando a posição - o que na água felizmente é bastante fácil!


Comecei a sentir uma ligeira vontade de fazer força, estava a entrar na fase da expulsão e muitas sensações começaram a mudar. As contrações eram bastante espaçadas, pouco intensas e nada dolorosas, quase que as conseguia ignorar não fosse a pressão da cabeça da bébé que me relembrava/obrigava a fazer força! E que força que tinha fazer, uff!!! E a bébé ajudava empurrando com os pés a parte de cima do útero (fantástico)!


Entre as contrações tentava relaxar muito. O namorado respirava profundamente, com a cara perto da minha, o que ajudava muito a manter a respiração controlada. Do outro lado a doula segredava-me o quanto todo o trabalho de parto estava a evoluir muito bem – o que me tranquilizada e dava segurança. Quando me apetecia pedia água e também para me molharem a testa com um pano de água fria. E os copos de água morna que tiravam da piscina e me deixavam escorrer pelas costas abaixo eram extremamente relaxantes!!


Nesta altura ia alternando as posições, ou estava de barriga para cima de mãos dadas à minha equipa(!) ou de barriga para baixo, ajoelhada e apoiada na borda da piscina. Ao contrário da fase de dilatação em que não pensava em nada, na expulsão apesar de continuar de olhos fechados e em silêncio fartava-me de "conversar" comigo própria – "Vá... tens de fazer mais força para conseguir pôr a criança neste mundo!!!".


A doula e parteira incentivaram-me a libertar-me mais e a vocalizar o que sentia nas contrações... e lembrei-me dos meus treinos de kung-fu e quando vinha a vontade de empurrar: HAAAAA!!! Não eram gritos de dor, mas sim de muita força e determinação!!! E de facto ajudava e muito! Depois, entre as contrações voltava a relaxar!


Algures ali pelo meio lembro-me de comentar "Estou cheia de fome!!!" Nunca imaginei que fosse sentir e dizer isto a meio do trabalho de parto! Mas era verdade!! E era normal... tinha vomitado tudo o que tinha comido nesse dia até ao momento. Mas estava demasiado fora da 'realidade normal' para conseguir comer o que quer que fosse!!


Ao contrário de toda a noite e início da manhã - em que o tempo tinha passado a correr, na piscina comecei a ficar com a sensação que já estava ali há muito tempo e o trabalho de parto não estava a evoluir. No fundo sentia-me super bem no meio da piscina, mas não em trabalho de parto! Meio na dúvida disse à doula "parece que não está a acontecer nada!?" Mas estava!!! A parteira sugeriu que eu tentasse tocar na cabeça, e de facto... IUPI!!! Estava ali, mesmo quase, quase, já conseguia tocar no cima da cabeça que estava a aparecer, e sentia perfeitamente um bocadinho de cabelo!!! O ânimo voltou!!! Ainda me perguntaram se queria sair da piscina para o banco de partos... e ponderei por segundos, mas sentia-me ali tão bem, (bolas!!) havia de conseguir pôr a criança cá fora!!! Estava era demasiado relaxada, sentia que me estava a faltar aquela adrenalina necessária para o empurrão final!


Entretanto, a parteira e a doula sugeriram que a bébé só ainda não tinha nascido porque eu estava era à espera que a minha mãe chegasse. Não tive consciência dessa questão na altura mas hoje acho que é bem verdade!!


Por volta do 4/5 mês de gravidez, depois de resolvidas umas tantas complicações (descolamento da placenta e placenta prévia), quando decidimos que o parto ia ser mesmo em casa optei por não falar disso com absolutamente ninguém, excepto com a minha mãe que reagiu mais ou menos assim:


— Um parto em casa??? Oh filha... estás MALUCA!?


— Não, não estou... E quero que tu estejas lá! :D


— O QUÊ????? NEM PENSAR!!! Era lá capaz de te ver sofrer!


Lá expliquei que ia ter um parto magnífico tal como queria! Seria um disparate partir do preconceito que o parto é igual a sofrimento (mas ela não conhecia o 'Orgasmic birth' por isso tinha de dar um desconto!!!). E tinha a certeza que ela ia adorar estar presente! Ao longo dos meses seguintes fui-lhe enviando videos de partos naturais e a futura avó lá se foi habituando mais ou menos à ideia.


Mas ao chegar a altura do parto achei que seria melhor não a chamar muito cedo. Não queria ninguém nervoso ao pé de mim! Por isso só a chamámos a meio da manhã e dissémos para vir pela hora de almoço (como se ainda faltasse muito para o grande acontecimento). Ela lá pensou que ainda tinha imenso tempo, ainda foi comprar comida e acabou por se perder no caminho (tinhamos mudado de casa há pouco tempo). Chegou uma hora atrasada, mas muito calma e sorridente como se nada fosse... e só quando entrou no quarto e viu a parteira e a doula é que percebeu que estava em cima da hora! E assim foi... uns 15 minutos depois dela chegar a bébé estava cá fora, eram 14h!


Tive de fazer muita força para a cabecita vir cá para fora e ia ouvindo a equipa a comentar "Olha a testa!... As orelhas!... O nariz!..." E aí pelo meio senti perfeitamente o "anel de fogo" (fantástico!), aqueles breves momentos mágicos que recordo com carinho e me fazem sempre evocar a imagem de um eclipse total do sol – quando num alinhamento perfeito – a lua se coloca entre a terra e o sol deixando à vista apenas o brilho intenso da coroa solar!


E assim nasceu a Eva :)


Meio atordoada peguei-lhe pelos braços ainda na água e puxei-a logo para o meu colo (não fazia questão que ela nascesse mesmo dentro de água, mas sempre tinha imaginado que se isso acontecesse, gostaria que o momento de emersão fosse mesmo muito calminho e suave, mas na altura lembrei-me lá disso!!!). Nem queria acreditar que a bébé já estava ali, tão calminha, com os olhos tão abertos, meio desorientada mas sem chorar, fez apenas uma choraminquice uns momentos depois! Colocámos uma toalha à volta e um gorro para não arrefecer e ficámos os três num grande abraço mágico! Passado pouco tempo e com alguma falta de jeito (minha e dela) a Eva começou a mamar!


Entretanto esperámos que o cordão deixasse de pulsar antes que o namorado (agora pai!!) o cortasse. Talvez uma meia hora depois, a parteira puxou suavemente o resto do cordão e a placenta saíu quase sem eu dar por nada. Segundo a parteira e a doula o cordão era invulgarmente grande e espesso. E pudémos ver com curiosidade a placenta e a membrana fetal que saíu quase intacta mas também era invulgarmente dividida em duas "secções", onde numa estaria a bébé e na outra não se sabe. Ficará a dúvida se no início dos inícios teria começado por ser uma gestação gemelar. Um dia quando tiver tempo hei de ler mais sobre 'gémeos singulares'.


Saí finalmente da piscina, fui tomar um duche e a princesa foi para o colo do pai! E agora já tinha mesmo vontade de comer – que fome!!! Durante toda a tarde continuei a sentir-me cheia de força e energia, mas o corpo relembrava-me o esforço das horas anteriores e quando me levantava ficava um bocado tonta!


As horas seguintes passaram demasiado rápido, acho que me senti a pairar, algo entre o incrédulo e o extasiado! As hormonas são mesmo muito poderosas... durante mais de 24 horas fiquei nesse estado difícil de definir. E as emoções foram mesmo inesperadas... só no final do dia seguinte é que olhei para o rosto da bébé e pela primeira vez desatei a chorar de felicidade!!!!


Agora olho para trás, dois meses depois, e estou cada dia mais feliz por isso não consigo dizer que o nascimento da Eva foi "o dia mais feliz da minha vida" mas foi, sem dúvida, o dia mais poderoso e transformador de todos!!!


Adorei o facto de me sentir em segurança, num ambiente confortável, com todas as pessoas que eu escolhi (e somente elas e mais ninguém), sem medos, sem stress, sem pressões de tempo e principalmente sem nenhuma intervenção desnecessária. Acredito que é a forma mais feliz e saudável para um bébé nascer!


Muito do que aqui escrevi resulta de conversas posteriores que tive com quem esteve presente (é a racionalização do momento!). Na realidade, durante o parto, tive muito pouca noção do que estava a acontecer para além do que eu sentia e da viagem que estava a fazer. Se nos permitirmos a essa libertação entramos mesmo noutro estado de consciência. Nunca soube que horas eram, em que fase do trabalho de parto estava, quantos dedos de dilatação tinha ou não, o que é que os outros estavam a fazer e deixei-me guiar apenas pelas minhas próprias percepções e sensações. Essa sim - é a verdadeira viagem – uma experiência fascinante que é muito difícil de traduzir em palavras. Foi lindo, lindo!! :)
Liliana Lopes Cardoso

A minha amishe :)

Maria :)
Revista Pais&Filhos: "Espera-se que o nascimento de um filho seja um momento sereno e acolhedor, mas muitas mulheres continuam a sentir-se humilhadas perante o tratamento dos profissionais de saúde nas maternidades.

Acreditamos que o mal não é geral, que a maioria das grávidas em trabalho de parto encontra bons profissionais, capazes de lhes darem a mão numa contracção mais apertada. Mas sabemos, por vários relatos que nos chegam à redacção, que ainda é normal ouvirem-se comentários paternalistas, autoritários ou descabidos enquanto um bebé se prepara para nascer. Assim como nas histórias que se seguem

Clorinda, mãe da Maria, nascida a 9 de Junho de 2008

"Depois de uma experiência de parto pouco gratificante numa instituição privada com o meu primeiro filho, optei por ter a Maria numa maternidade pública. Informei-me, preparei-me e quando rebentaram as águas não fui a correr para o hospital. Sem contracções, sem dores, a sentir-me bem, deixei-me ficar em casa, serenamente, à espera. Passadas 12 horas, com as primeiras contracções a darem sinal, dirigi-me então ao hospital. A recepção foi completamente inesperada. Chamaram-nos estúpidos, inconscientes, amishes. Tudo porque tínhamos esperado «muito tempo» depois de a bolsa ter rebentado. Comecei a ficar muito nervosa, principalmente com a médica que me viu primeiro e que sempre me tratou com antipatia. Cada vez que ela entrava no quarto, sentia que as contracções paravam. No plano de parto (que foi aceite pela maternidade), pedi que não me pusessem o CTG nem soro, mas fizeram-no assim que cheguei, com o argumento de que precisava fazer antibiótico, pois tinha a bolsa rota há 12 horas (mesmo sem ter saído de casa) e podia ser foco de infecção. O meu desejo era ter um parto normal e disse isso à equipa de serviço, mas a resposta foi: «Por acaso há partos anormais?». Umas 30 horas depois de a bolsa ter rompido, o trabalho de parto continuava a evoluir muito devagar. A certa altura, a médica entrou no quarto, pôs-me ocitocina sob a forma de comprimido vaginal e disse: «Esta mãe é uma irresponsável, por isso nem vou explicar o que estou a fazer». Outra médica, disse-me ainda que «se queria um parto normal, ficasse em casa». Ter a Maria deste lado foi lindo, mas durante o resto do tempo senti-me gozada, de mãos atadas. " Ler a reportagem aqui: http://www.paisefilhos.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=1992&Itemid=60


Relato de parto


Eu não sou produto de pais hippies e não me considero uma moralista. Não sou uma ateia, uma liberal, ou uma neofeminista. Não sou louca nem marciana. No entanto,  é isto que as pessoas normalmente presumem quando lhes digo que tive o meu filho em casa, de forma programada.



Eu não tive o bebé em pleno Inverno, num qualquer sítio remoto, sozinha e toda nua. Eu não acendi velas, não pus a tocar música new age, não entoei cânticos a uma deusa do parto, nem me envolvi numa sessão espírita. Eu não tive o meu bebé abraçada a uma árvore, nem agachada num campo de arroz (não que haja alguma coisa de errado com estes cenários). Eu simplesmente tive o meu trabalho de parto e pari em casa.

Para si, caro leitor, isto pode não ser nada de transcendental, mas as reacções que tive vão desde o choque e repugnância, à admiração e elogio—e até à descarada falta de educação. Por mais de uma vez fui apelidada de mártir.

Mas a resposta mais comum ao meu parto em casa tem sido a simples pergunta: “Porquê?”

Boa pergunta.

Passo a explicar.
 
continua aqui: http://www.bionascimento.com/index.php?option=com_content&task=view&id=202&Itemid=1

Relato de Parto na água

Pedi autorização á Joana para partilhar este relato de parto no blog, foi um privilegio conhecer esta fantástica mulher, percebi logo que só podia acabar com um parto assim...

Um grande beijinho com saudades e admiração para as minhas colegas e amigas Sara e Ana, que mais uma vez mostraram o seu profissionalismo e dedicação.



Já sou mãe! Relato do meu parto em casa e na água!


Nada disto seria possivel sem a atenção, o carinho e elevado profissionalismo da minha enfermeira-parteira Ana Ramos e da minha doula Sara Almeida, a quem venho por aki agradecer, foram elas q me deram força e me fizeram acreditar q eu conseguiria e q podia continuar ;) ! Foi preciso ter mta paciência ;) ! Aki vai o relato:

A minha filha Catarina nasceu no dia 20 às 7h31!!!
O parto foi em casa, como planeado, dentro de água, na piscina q comprei p partos q é espectacular, a água ajuda mt realmente, tanto na fase da dilatação do alivio das contracções como na fase da expulsão, sabe mm mt bem ir p dentro de água! O pai ajudou-me a faze-la nascer, mandei-o entrar na piscina quando senti q faltava pouco p ela nascer, ele pos-se atrás de mime encostei-me a ele p fazer força, fizemos nascer a nossa filha de mãos dadas e eu c as pernas apoiadas nos pés dele p n ter tendência de fechar as pernas! Eu fiz tudo como quis, fui à casa de banho quando quis, punha-me nas posições q queria, e digo-vos ja q a posição de deitada era horrivel p suportar as contracções, eu normalmente punha-me de gatas p ultrapassar a contracção e descansava deitada, tb usei uma bola p me apoiar durante as contracções. Pude comer quando quis, e entrava e saia da agua quando queria tb! Tive o acompanhamento da minha enfermeira-obstetra, da minha doula, do meu namorado, da minha irmã e da minha sobrinha! A doula e a enfermeira estiveram sempre ao pé de mim, o q permitiu q o meu namorado descansasse e dormisse um bocado durante a fase da dilatação! Senti perfeitamente tudo o q se tava a passar no meu corpo, senti quando estava a ser a dilatação e dps a fase da expulsão, apesar de no final da dilatação ja estar um bocado drogadita, so a dizer asneiras, lol, dizem q é das endorfinas naturais, ou das hormonas n sei, mas entrei como q num estado de transe! As minhas águas só rebentaram às 6h da manhã com uma contracção mt forte, e dps eu quis entrar para a piscina e começou a fase de expulsão, pus-me apoiada na borda da piscina, de joelhos c as pernas abertas p dilatar bem a minha pélvis, senti mm vontade de fazer isto, era como me sentia melhor e foi mt natural! Houve alturas q pensei q n fosse conseguir, q doia mt, q so me apetecia morrer, lol, mas a enfermeira e doula dizem q isso é normal, q isso são pensamentos q se costumam ter mm no final! À medida q fazia força conseguia visualizar a minha pélvis a abrir e a cabeça da bebé a encaixar-se lá! Dps numa altura senti q estava mm próximo e q ia precisar da ajuda do meu namorado, pedi a ele p entrar na piscina, primeiro apareceu o cabelinho dela e em cada contracção eu ia dilatando cada vez mais a minha vulva e os tecidos, tive uma sensação de ardor q se chama "anel de fogo" q é a dor dos tecidos distendidos, mas a vontade de fazer força e de fazer a bebé nascer era superior a isso, e ao fim de algumas contracções, a minha vulva la se foi abrindo, os cabelinhos apareceram, eu fui tocando sempre na cabecinha p saber o q se estava a passar, até q ao fim de umas contracções saiu a cabeça, dps descansei uns minutos, lol, e fiz nascer o resto do corpinho da minha filha na contracção seguinte, foi espectacular! Senti o corpinho dela girar sozinho p os ombros passarem, a enfermeira disse-me q isso ia acontecer, e q o bebé fazia sozinho e foi verdade!!! A enfermeira pegou nela e passou logo p nós, foi mt emocionante e eu fikei logo consciente e saí logo do estado de transe p dar atenção à minha bebé, ela levantou a cabeça p olhar p nós qd a pegámos, chorámos os dois e ficamos os 3 abraçados, foi mt bom! Dps o pai cortou o cordão umbilical! Demos a primeira mamada ainda dentro de água e dps é q me levaram p a cama! Na cama fui cosida, so fiz 2 rasgões pequenos, um em cima, e outro no períneo, o de cima nem levou pontos e passado 2 dias ja tinha cicatrizado e o do períneo levou so 2 pontos, so rasguei 1 pouquinho de pele, nem chegou ao ânus, hoje ja fiz cocó normalmente e n me doi nada! Tb me pude logo sentar mm dps de ser cosida! O trabalho da doula e da enfermeira foi espectacular, estiveram sempre presentes e a dar-me mta força, disseram-me as palavras certas na altura certa, a doula estava sempre ao pé de mim, a abraçar-me a dar-me beijinhos e massagens, com palavras mt doces, fui tratada como uma princesa! A enfermeira interferiu o minimo possivel, às vzs auscultava a bebé, deu-me algumas indicações na fase da expulsão, dava-me palavras de ânimo, e na fase da expulsão verificou se estava tudo bem p a bebé sair e recebeu-a, dps coseu-me e fez mais uma série de coisas importantes q nem me dei conta! Elas são as duas, pessoas e profissionais espectaculares! Eu e o meu namorado ficámos os 2 mt satisfeitos c o meu parto! A minha filha nasceu com 3,900 kg, e 50,5 cm! Provavelmente se eu tivesse ido p o hospital tinham-me feito uma cesariana por ela ser mt grande, além de q ela tinha a cara virada p o meu coccix e dizem q assim é mais dificil, ou tinham-na tirado c forceps ou ventosas, e tinham-me cortado, além de q eu n teria suportado as dores se fosse p um hospital, eu acho q tinha-me passado e tinha entrado em pânico!
Gravámos o meu parto e quem quiser esta convidado p vir a minha casa ver! N vou dizer q n doi, nem q n custa, as dores são grandes à mm, mas pelo menos pude procurar formas de me aliviar, e qd tinha vontade de fazer cocó fazia, qd tinha vontade de fazer xixi e de comer tb, etc!
No dia a seguir, sentia-me mt cansada devido às dores musculares, doiam-me os musculos todos, acho q os usei a todos p fazer a expulsão, eheheh, tb perdi bastante gordura q ganhei durante a gravidez, já tenho outra vez as pernas quase sem gordura como tinha antes, a natureza realmente é espectacular!
Se tivesse ido p o hospital provavelmente tb n tinham esperado, pq a minha fase de dilatação durou mt tempo, desde as 11h30 até às 6h do dia seguinte, mas dps a expulsão foi "rápida", uma hora e meia, apesar de nos hospitais despacharem isso em 5 minutos!
Meninas, n acho bem q vos digam no hospital p aguentarem ou p n fazerem força, isso é completamente anti-natural e n sei se alguem o consegue fazer, eu n conseguiria, tinha vontade de fazer força, fazia força, mais nada!
Fartei-me de gritar, eheheh, acordei o predio todo, ainda vieram ca uns vizinhos mas aceitaram mt bem, no dia a seguir vieram me visitar!
Já fez 3 dias q ela nasceu e ja estou praticamente recuperada, ja n me doi nada no corpo, a n ser os pontos q dão 1 pouco comichão, mas é normal, n infectaram. Tb ja toquei na minha vulva e parece normal, parece q nem pari, eheheh Piscar o olho !
Já consigo fazer tudo em casa e tratar de tudo da minha menina, mas graças a deus n tive de me preocupar mt c isso pq tive cá a minha irmã e a minha sobrinha a ajudarem-me!
Tb acho importante dizer q minha filha nunca entrou em sofrimento fetal, a frequência cardíaca dela esteve sempre óptima, e tb q acho mt importante q mãe possa fazer as escolhas em relação ao parto, q posições tomar, o q fazer, quando e como fazer força, a natureza é sábia, e o q a mãe sente q é o melhor a fazer nakela altura é mm o melhor, o q o nosso corpo necessita nakele momento p akele acto! O nosso corpo sabe fazer cocó, fazer xixi, comer, tal como sabe parir, e ninguem sabe melhor do que o corpo da mãe como parir! É importante deixarmo-nos levar pelo q sentimos! Achei uma experiência surreal, de trancendência mm, percebi a capacidade enorme q o meu corpo tem e senti toda a força da natureza em mim! Poder parir à nossa vontade é espectacular, é feito naturalmente, n traumatiza e recupera-se mt bem! P mim n foi um choque, mas uma experiência linda, espectacular e de força!
Tb acho, e sei de casos q foram mm assim, q se alguma coisa n está bem, ou q n é possivel continuar o parto naturalmente, a mãe sente! Aconselho a todas as mulheres a pensarem bem no parto q vão ter, têm o direito de decidir, n é obrigatório ir p o hospital, e q acima de tudo confiem em si, na sua força, acima de tudo e de qualquer outra pessoa! O corpo é nosso, os filhos são nossos, nós é q sabemos o q é melhor p os nossos filhos e p nos no acto de parir, nós somos kem se preocupa mais!
N vos vou dizer q n há altura de duvida, em q desconfiamos q n vamos conseguir, afinal, temos de fazer akilo sozinhas, n vai nenhum médico puxar o nosso bebé com ventosas, ou cortar-nos p sair mais depressa, eu cheguei a pensar q me apetecia q alguem fizesse akilo pode mim, mas é natural pensar assim, e talvez isso é mais um factor a ajudar p q tudo corra bem, e no fundo, eu n keria k ninguem fizesse akilo por mim, nem mexesse no meu corpo, no fundo, eu keria fazer sozinha e sabia q era capaz! Na fase da expulsão da bebé, à medida q ia sentindo a vulva a abrir-se e a cabeça a aparecer, tinha perfeita noção do k se estava a passar e de k precisava de mais tempo p os meus tecidos permitirem a passagem da bebé! No hospital aceleram este momento, fazem a episiotomia p q o bebé saia mais depressa, ou usam forceps ou ventosas, nem deixam as coisas acontecerem ou a mãe trabalhar poe ela própria! A episiotomia n é melhor q uns rasgõezitos, corta camadas musculares, pele, pode cortar nervos, vasos sanguineos, a recuperação é mais dificil e dolorosa, há estudos q dizem ja à mts anos q a episiotomia de rotina é desnecessária, e so sera necessaria em menos d 5% das mulheres, em portugal fazem acima de 90% nos hospitais...tudo pq n há calma, pq n se espera, pq n se deixa a mulher fazer o trabalho q é dela! No fim, senti-me mt realizada por ter conseguido! Foi mt bom!
Hoje estou mt feliz, tenho uma filha linda, perfeitamente saudável e n a sujeitei a nada desagradavel como o q sujeitam os bebés nos hospitais e n falo só no pós-parto imediato, mas tb, durante o trabalho de parto visto as induções levarem a sofrimento fetal, as cesarianas fazerem bebés nascer adormecidos e sem terem passado pelo processo de parto q é um momento importante das suas vidas e q sabe-se hoje q é mt importante q passem por esse momento na sua vida futura a nível psicológico!
Aconselho vivamente a todas as mães este tipo de parto, e pelo menos para pensarem mt bem no sitio onde vão parir e como kerem o vosso parto, q se informem e vejam o k é melhor p si, n se entreguem a outras pessoas, nem ao k vos dizem, vocês é q sabem o k é melhor p vocês!
Contactem-me para mais informações, q ajudo no que puder!


Joana Almeida

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