Obrigada por estas imagens, tão chocantes por um lado tão pernas pelo outro.É necessário não desviar o olhar de forma a nos consciencializarmos do que implica um parto hospitalizado. Cristina
Boa noite, Um parto medicalizado é também um parto humanizado. Há casos e casos. Trabalho em hospitais e posso afirmar que aquilo que os partos "medicalizados" pretendem é utilizar os avanços científicos, com o intuito de evitar complicações para o recém-nascido e para a mãe. Nomeadamente em relação à dequitadura (o corte que se vê nas imagens), é de manifesta utilidade para evitar roturas perineais extensas que, nos partos caseiros e não acompanhados, podem conduzir a incontinência anal, por exemplo. O parto "natural" que se vê no vídeo é um exemplo de um caso sem complicações. A realidade, contudo, é que não é transversal a todos os casos e as complicações possíveis são sérias, para a mãe e para o recém-nascido. Gostaria só de deixar esta mensagem. A humanização de um parto não passa pela não utilização de instrumentos médicos. Passa, sim, pela compreensão e respeito pelo momento especial vivido pela família. Cumprimentos a todos, João Dias
Caro João Dias, prometo escrever sobre a episiotomia...As episiotomias, incisões que alargam a abertura vaginal durante o parto, estão correlacionadas com um maior risco de lesão, maiores dificuldades na cura e mais dores, segundo uma nova análise baseada em 26 estudos efectuados.
Os resultados, publicados no Journal of the American Medical Association, parecem reverter crenças estabelecidas de que o procedimento seria preferível para prevenir um rasgo espontâneo e que também ajudaria as mulheres a recuperar no pós‑parto. O estudo encontrou evidência que a episiotomia não tem efeito aos níveis da incontinência, na resistência da parede do útero ou ainda na função sexual. Ainda, de acordo com o estudo as mulheres a quem foi aplicado o procedimento demoram mais tempo a retomar a sua actividade sexual. Aliás, o primeiro coito pós‑parto causou mais dor a estas mulheres, de acordo com um relatório da Associated Press sobre este estudo.
“Esta análise reúne num único local todas as evidências que não estamos a ter os resultados que pretendemos” disse a Drª Katherine Hartmann, a autora/directora do estudo, investigadora na Universidade da Carolina do Norte.
Ela estimou que 1 milhão de mulheres em cada ano tiveram episiotomias desnecessárias, citando estudos que indicam que o procedimento é aplicado em cerca de 30% dos partos vaginais. Uma análise da Associated Press de dados hospitalares descobriu que houveram 616.702 episiotomias em 2002, mas Hartmann disse que os procedimentos estão subestimados nos registos hospitalares.
Médicos e pesquisadores têm-se afastado há algum tempo das recomendações de episiotomias de rotina, mas continuam a ser relativamente frequentes nos Estados Unidos. Em Portugal é uma prática largamente utilizada.
Originalmente, pensava-se que as episiotomias preveniam rasgos sérios e que curavam melhor que os rasgos naturais, mas os resultados deste estudo mostram claramente o oposto – as episiotomias podem aumentar a gravidade dos rasgos durante o parto e fazerem com que a recuperação das mulheres seja mais difícil. Além disso, mulheres que já sofreram episiotomias têm os músculos da parede pélvica mais fracos e enfrentaram um desconforto maior quando retomaram a sua actividade sexual, do que as mulheres a quem não foi aplicado este procedimento.
Outro excelente artigo sobre a episiotomia "Uso Generalizado versus Selectivo" - da autoria das Dras. Bárbara Bettencourt Borges, Fátima Serrano, Fernanda Pereira do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia da Maternidade Dr. Alfredo da Costa - Lisboa - Portugal. Um excelente olhar científico sobre esta rotina médica practicada em Portugal (em versão PDF que pode ver aqui: